A professora transexual que trocou indenização de R$ 20 mil para dar aula a seus agressores

Ela defende que sua dignidade não tem preço e acredita que só a educação pode mudar as pessoas

Bianca Stephania Siarom
Por Bianca Stephania Siarom
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A professora de matemática transexual Natalha Claudinei Silva Nascimento deu uma aula inusitada: dentro de uma sala do Fórum de Justiça de Brasília, falou não para alunos adolescentes, mas sim para 40 funcionários de uma pastelaria de onde ela era xingada diariamente.

Na aula, em vez dos números que ensinou por mais de dez anos como professora de ensinos médio e fundamental, Natalha lecionou sobre gênero, aspectos biológicos e comportamentais dos transgêneros, direitos, violência contra os desiguais e a importância de denunciar atos discriminatórios.

Foi a ignorância que me fez sofrer por todos esses anos e quero acabar com ela com a eduçação“, diz a maranhense de 35 anos.

A gota d’água ocorreu em 26 de abril, quando ela decidiu pedir para que parassem com as ofensas. Um deles se aproximou, a derrubou no chão e a agrediu violentamente. Ela entrou na Justiça, mas, na audiência de conciliação desistiu de R$ 20 mil reais pela chance de dar uma aula de direitos humanos a eles.

Eu sai satisfeita de olhar, olho no olho, das pessoas que me ofenderam. Me devolveram a minha dignidade. Sai daqui satisfeita. Absolutamente satisfeita“.

Marília de Avila e Silva Sampaio, a juíza do 6º Juizado Especial Cível de Brasília que conduziu o acordo, ficou surpresa com a atitude de Natalha. “Em 22 anos de magistratura, nunca vi um caso desses. Nem de uma pessoa transexual procurar a justiça por danos morais por agressão e nem de uma proposta de aula no lugar de uma reparação financeira“, diz.