Às vésperas do ‘Encontro Marcado’ em Goiânia, Sá, da dupla com Guarabyra, fala de censura no período militar

Cantor fará show no próximo sábado e falou do Clube da Esquina, da ditadura, do governo e atual e muito mais. Confira a entrevista exclusiva!

Adelina Lima
Por Adelina Lima
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Luiz Carlos Sá, muito conhecido no Brasil pela sua atual dupla com Guttemberg Guarabyra, se prepara para um super show em Goiânia no próximo sábado (16), ao lado de Flávio Venturini e o 14 Bis no ‘Encontro Marcado’. Em entrevista exclusiva para o Curta Mais, o carioca abriu o jogo e falou da importância do Clube da Esquina, do momento atual da música brasileira, da censura da ditadura sobre suas músicas, da política brasileira atual e até as histórias de “Dona” (concebida pela dupla em Goiânia) e de um famoso jingle para um grande banco nacional.

Na mesma semana em que Zezé Di Camargo afirmou não ter existido Ditadura Militar no Brasil, o cantor conhecido pelo seu Rock Rural foi de encontro e disse que a censura no período existia sim: “nós tínhamos que mostrar as músicas para os censores e eles nos mandavam fazer correções, coisa que a gente não admitia e preferia não ter a música gravada”. Ele ainda conta dos recursos e artimanhas que faziam para evitar o cerco da censura. 

Sobre a sua participação no contexto da música brasileira, Sá é categórico: “tivemos sorte”, mas também ressalta que “essa sorte é uma combinação de talento e estar na hora certa quando foi preciso”.

 

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Confira o agradável bate-papo que tivemos com um dos maiores ícones da música brasileira:

 

Qual a importância do Clube da Esquina para você e para sua carreira?

Quando nós lançamos nosso primeiro disco do Sá, Rodrix e Guarabyra, o Clube da Esquina logo depois lançou aquele grande disco, mas nós sempre fomos muito amigos do Milton (Nascimento) e nós pedimos a ele para indicar um tecladista para nós e ele indicou o Flávio Venturini e nós já tínhamos na banda o Sérgio Magrão. E de qualquer maneira, eu acho muito importante o movimento do Clube da Esquina. Foi uma injeção de sangue novo na música brasileira e sempre fomos amigos de todos eles, do Milton, do Toninho Horta, do Ronaldo Bastos, do Beto e são amigos que continuam muito próximos, desde que eu vim morar aqui em Belo Horizonte, há cerca de dez anos.

 

Como você enxerga a sua participação na música brasileira e como você vê essa mudança que o mercado musical vem passando nos últimos anos?

Nós começamos em uma época privilegiada, principalmente quando a música brasileira abriu um leque de opções muito grande. Desde o final da Bossa Nova, já no Pós-Tropicalismo que nós começamos e depois no auge da censura da ditadura. Então a princípio foi muito difícil colocar a cabeça para fora, com aquele negócio de censura e tudo. Tivemos algumas músicas censuradas e tudo, mas de qualquer maneira eu acho que nós fizemos parte de uma geração privilegiada, pois a gente pode se expor a todos os movimentos paralelos ao Clube da Esquina, o Pós-Tropicalismo, que ainda vibrava muito forte quando nós começamos e nós próprios, com o Rock Rural e outros ramos da música brasileira. Tudo aconteceu ao mesmo tempo. E ao mesmo tempo chegando de fora também aquela época pós-beatles, com um rock de qualidade que perdura até hoje.

Eu vejo a gente como uma dessas correntes, nós começamos essa parada de Rock Rural, que não fomos nós que demos o nome, mas que acabamos adotando o rótulo, porque é quase impossível você não ter um rótulo, se você não tem eles não sabem que tipo de coisa que você é. E às vezes o que a gente faz não é rock, às vezes não é rural, mas de qualquer maneira virou isso, Sá & Guarabyra são os patronos do Rock Rural.  E nós vamos lançar novos trabalhos agora, eu vou lançar um disco solo também agora. Nós temos sorte também, né (risos)? Eu quero crer que essa sorte é uma combinação de talento e estar na hora certa quando era preciso.

 

E vocês disseram que houve censura em algumas músicas…

É, na ditadura isso é comum, né? Nós tínhamos que mostrar as músicas para os censores e eles nos mandavam fazer correções, coisa que a gente não admitia e preferia não ter a música gravada, mas às vezes nós lançamos de certos recursos. Por exemplo: tem uma música que a gente toca no show, chamada “Pássaro”, que antes foi para a censura com o nome de “Tocador”, “Um tocador de violão não pode cantar, prosseguir”, e a censura barrou e nós mudamos o nome e colocamos que a interpretação seria daquela dupla sertaneja, Tonico e Tinoco. E aí como a censura achava Tonico e Tinoco inofensivos, a música passou e era a mesma música com a mesma letra. Aí nós gravamos e demos essa bicicleta na censura, né? Mas você tinha sempre que estar fazendo alguma coisa, foi muito duro passar por essa época.

 

E depois de tudo o que vocês viveram nessa época, como você define o momento político atual do Brasil? Vocês acham que está bom ou está ruim o que está acontecendo nos últimos anos.

Eu acho que por um lado tem a questão sendo vista de frente, sendo compreendida por todo o povo brasileiro. Claro que ela estava aí há muito tempo, em qualquer regime a corrupção não é novidade, e há ferramentas que defendam o povo disso, alguns países as têm, desde a educação e dos princípios de não ser corrupto, que é isso que tem que ser incutido nas pessoas. Os problemas do Brasil são saúde, educação e corrupção, enquanto a gente não tiver isso… e tá confuso! Essa época é uma época de transição, mas eu acredito que o regime democrático vai ser ainda mais forte e as pessoas vão ter mais consciência e uma atuação política maior também. Nada é grátis!

 

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E qual a sua definição do governo atual?

O Temer foi uma invenção do próprio PT, desde que o PT procurou também o PMDB por uma questão de governabilidade que estava claro que aquela coisa não iria dar certo, pois o PMDB é um saco de gatos. E eu não consumo emitir opiniões políticas porque eu admito qualquer princípio político que a pessoa tenha contanto que ele seja libertário e seja feito para defender os mais desfavorecidos. Eu acho que esses espaços e esse abismo que existe no Brasil de uma classe para outra é inaceitável, as pessoas não aceitam mais. E essa minoria milionária sendo produto de um sistema corrupto, isso é inaceitável hoje em dia. O mundo está mais civilizado, né? Em todos os países de centro, democráticos ou socialistas isso não é mais admissível, não é mais admissível uma Coreia do Norte, não é mais admissível um regime que mantenha as pessoas na miséria, o mundo já enxergou isso.

O que acontece é uma luta daqueles que estão no poder para se manterem e perpetuar isso, principalmente na política brasileira. Você vê um presidente entrar depois de outro e, em vez de conservar o que o outro tinha de bom e detonar o que tinha de ruim, não, ele quer detonar tudo como se aquilo não fizesse parte da memória do Brasil. Todos os governos brasileiros no pós-ditadura fizeram uma coisa positiva, não foi só o Lula que fez, isso é obrigação dos governantes, poxa! Sejam eles de esquerda, de direita, eles têm que entender que governam para o povo e não para uma classe ou para outra, o caminho não é por aí. O que a gente vê hoje é que não há solidez ideológica no Brasil, nenhum partido tem uma linha ou corrente.

 

Sobre Goiânia, tem uma história de que você e o Guarabyra compuseram a música “Dona” aqui na cidade, gostaria que você contasse para a gente isso melhor.

É verdade absoluta! No hotel Umuarama, não é isso? Ali nesse hotel nós fizemos o “Dona”. Em três horas a música estava pronta. O Guarabyra começou a fazer, aí ele meteu a vassoura no teto, pois eu estava no quarto de cima, para eu falar de falar no telefone (risos). Aí eu parei de falar no telefone, liguei para ele e disse: “que isso, cara! Tá ficando louco? Vai cair o reboco do hotel”! “Ah, desse aqui, a gente tem que acabar esse música aqui!”, pois nós queríamos nos inscrever em um dos últimos festivais da Globo. Acho que foi em 1982… exatamente. Nós nos inscrevemos, cantamos a música no festival, ela não ganhou nada. E depois o produtor da novela Roque Santeiro pediu para a gente entregar a música para ele gravar com o Roupa Nova, e fez sucesso com o Roupa Nova e continua fazendo sucesso com a gente também. É um produto legitimamente goianiense!

 

É verdade que você que compôs aquele jingle “vem pra Caixa você também”? Como foi isso?

Isso foi em 1981, se não me engano, mas ele está aí até hoje. A Caixa gostou e nós também (risos). Na realidade eu tinha uma produtora de jingles em São Paulo em sociedade com Rogério Duprat e com o Guarabyra também, que mais tarde deixou a sociedade. E nós tínhamos que pagar o estúdio caríssimo, não tínhamos condição nenhuma e aí saímos fazendo jingles que nem loucos, que naquele tempo dava dinheiro. E conseguimos, pagamos o estúdio em menos de três anos, só com jingle. O Guarabyra fez muito sucesso com uma da Pepsi, que era “só tem amor que tem amor para dar”, não se você conheceu, mas foi um marco na história dos jingles e eu ataque com o “vem pra Caixa você também”.

 

S E R V I Ç O 
Flávio Venturini, Sá & Guarabyra e 14 Bis: Encontro Marcado
Quando: sábado, 16 de setembro 
Onde: Novo Centro de Convenções da PUC-GO Campus II (Teatro) – Avenida Engles, 507, Jardim Mariliza. Ao lado do Memorial do Cerrado. (Telefone: 3946-1067) 
Que horas: 21h às 22h50 
Quanto:
Plateia Standard
R$ 160 (inteira), R$ 80 (meia-entrada ou CMPM Básico) e R$ 70 (CMPM Premium)
R$ 200 (inteira), R$ 100 (meia-entrada ou CMPM Básico) e R$ 95 (CMPM Premium)
Plateia Premium
R$ 300 (inteira), R$ 150 (meia-entrada ou CMPM Básico) e R$ 145 (CMPM Premium)
Camarote 
R$ 400 (inteira), R$ 200 (meia-entrada ou CMPM Básico) e R$ 180 (CMPM Premium)
*Estacionamento será cobrado à parte 
Vendas: 
Quiosque Curta Mais (Shopping Bougainville, Piso 1) – de segunda a sábado, das 10h às 22h
Curta Mais Por Menos
Bilheteria Digital

Mais informações: (62) 3931-0505