Conheça a história por trás do feriado de 21 de abril

Júlia Marreto
Por Júlia Marreto
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Batizado Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes foi uma importante figura histórica, famoso por ser um dos líderes da Inconfidência Mineira e o único a receber pena capital, ou seja, pena de morte pela forca.

Na, então, capitania de Minas Gerais, durante o Brasil colonia, no dia 12 de novembro de 1746 nascia Joaquim. Homem que desempenhou diversas funções, entre elas dentista amador, razão pela qual ficou conhecido como Tiradentes.

Dentre todas suas tentativas a única que lhe rendeu sucesso foi a de alferes – patente abaixo da de tenente – da cavalaria de Dragões Reais de Minas, a força militar atuante na Capitania de Minas Geras e subordinada à Coroa Portuguesa.

 

O quinto

Apesar não ter sido um intelectual, Tiradentes se interessava pelos escritos políticos, como as leis constitucionais dos Estados Unidos, país que conquistara sua independência em 1776, quando o alferes tinha 30 anos.

Junto aos intelectuais Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, lutaram juntos para retirar do poder o então Governador da Capitania de Minas Gerais, nomeado pela Coroa Portuguesa, Visconde de Barbacena.

Revolta essa que começou pelo descontentamento da população com o governo de Barbacena e o Império Português que, constantemente, retirava riquezas da região por meio de impostos excessivos.

O chamado quinto era o imposto cobrado pelo ouro produzido na Capitania de Minas Gerais, equivalente a cerca de 20% do total extraído. Porém, em 1760, a extração do ouro regrediu consideravelmente, mas não o valor do imposto. O quinto continuou a ser exigido dos mineradores locais, lei que se fazia valer mesmo que fossem necessárias agressões físicas. 

 

A derrama

O problema se agravou ainda mais quando a Coroa Portuguesa autorizou a reversão da margem defasada dos quintos recolhidos. Chamada derrama, obrigava os mineradores a cobrirem com suas posses o que faltava na quantia do quinto. Ação esta que resultou na falência de diversas famílias.

 

A inconfidência

Em 1788 começou a ser preparada a conspiração dos inconfidentes, con o intuito de inciar suas ações no ano seguinte. Tirandentes, por sua personalidade agitada, ficou conhecido como o inconfidente mais radical. Seguin o pesquisador Lucas Figueiredo, em seu livro Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810):

“Um radical entre moderados, um franco entre dissimulados, ele defendia – publicamente e em qualquer lugar (de bordéis a residências de ricos mercadores) – uma revolução que tornasse Minas Gerais independente de Portugal. ”Era pena”, dizia o alferes, ”que uns países tão ricos como estes [as Minas Gerais] estivessem reduzidos à maior miséria, só porque a Europa, como esponja, lhe estivesse chupando toda a substância”.

Tiradentes chegou a tramar o assassinato do Visconde de Barbacena, atitude que não foi concretizada porque Barbacena, por meio da confissão de um dos inconfidentes, José Silvério dos Reis, desmantelou a trama e prendeu todos os envolvidos.

 

O herói nacional

Presos, muitos dos inconfidentes, temendo severas punições, não confessaram seus crimes. O único a fazê-lo foi Tiradentes, que, por isso mesmo, recebeu a pena mais dura, em um processo transcorrido na cidade do Rio de Janeiro, que só teve fim em 21 de abril de 1792.

Vale notar que, tanto no período imperial quanto no período republicano, a imagem de Tiradentes passou a ser tomada como um ícone da liberdade e da independência do Brasil, como um herói da nação. Essa imagem foi constantemente reforçada por pinturas e monumentos.

No ano de 1965, já na primeira fase do Regime Militar no Brasil, o marechal Castelo Branco, então presidente da República, contribuiu para o reforço dessa imagem de Tiradentes, sancionando a Lei Nº 4. 897, de 9 de dezembro, que instituía o dia 21 de abril como feriado nacional e Tiradentes como, oficialmente, Patrono da Nação Brasileira.

 

Curiosidades

1 – Diferente do que mostram as imagens dos livros didáticos, Tiradentes nunca usou barba e cabelos longos. Por ser militar, o máximo que poderia usar era um discreto bigode. Na hora do enforcamento, ele estava de cabelo raspado e barba feita.

2 – Depois do enforcamento, o corpo de Tiradentes foi separado em quatro partes que foram expostas no caminho entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. Sua cabeça ficou exposta em um poste, em praça pública. Na terceira noite, sua cabeça foi roubada e nunca mais encontrada.

3 – No dia 4 de julho de 1792, os instrumentos odontológicos usados por Tiradentes foram comprados em um leilão por Francisco Xavier da Silveira, que pagou 800 réis pela bolsa completa.

4 – Apesar de não ter se casado, Tiradentes deixou dois filhos: João, que teve com a mulata Eugênia Joaquina da Silva e Joaquina, fruto de seu relacionamento com a viúva Antônia Maria do Espírito Santo.

5 – Como dentista, Tiradentes não gostava muito de arrancar os dentes de seus pacientes, preferia preservá-los, mas quando era necessário, o fazia. Mas também fazia coroas em marfim e osso de boi para preservar os dentes possíveis.

6 – Além de ter trabalhado como dentista, Tiradentes foi também tropeiro, minerador e até engenheiro. Entrou para a 6ª companhia de Dragões de Minas Gerais, como alferes, uma espécie de segundo-tenente.

7 – Aos 40 anos, Tiradentes se apaixonou por Ana, filha de um sargento, que tinha apenas 15 anos. O romance não teve sucesso, pois a moça já era prometida a outro homem.

8 – Segundo relatos da época, Tiradentes era alto, magro e muito feio.

9 – Os livros didáticos contam que as últimas palavras de Tiradentes foram “Cumpri minha missão, morro com a liberdade”, porém, alguns relatos não oficiais, dizem que, após subir os 21 degraus para chegar à forca, ele teria dito ao carrasco “Seja rápido”.

10 – Tiradentes é o “patrono cívico da nação”, ou seja, o único brasileiro que tem sua data de morte como feriado nacional.