Há 20 anos, Racionais MC’s lançava o álbum mais importante da história do rap nacional

'Sobrevivendo no Inferno' é um marco da cultura nacional e vendeu mais de 2 milhões de cópias

Adelina Lima
Por Adelina Lima
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Antes de começar a ler esta matéria, Curta Mais te convida a dar o play e fazer parte dessa história de sucesso:

Racionais MC’s, fundado em 1988, e formado pelos mcs Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue e o dj KL Jay, é o maior grupo de Rap do Brasil e está entre as bandas mais influentes do país. Neste mês de dezembro, o grupo comemora 20 anos de um dos maiores álbuns da música nacional – “Sobrevivendo no Inferno”, um divisor de águas para o rap nacional.

O quinto trabalho de estúdio do quarteto paulistano, lançado em dezembro 1997 em LP e CD, não ficou restrito à periferia. Com cerca de 2 milhões de cópias vendidas, Sobrevivendo no Inferno foi um boom para o rap no país, colocando os Racionais em evidência no cenário musical brasileiro e o hip-hop como o principal movimento de protesto e contestação na cultura do Brasil.

O álbum, que já tem milhões de visualização no youtube em várias páginas, vai ganhar edição comemorativa de 20 anos. Veja a postagem na rede social oficial do grupo:

Com linguagem simples, direta e autêntica das zonas periféricas, o álbum reflete a cultura popular e narra “o lado B do país”, o dia-a-dia de inúmeros cidadãos que tentam sobreviver neste dessa realidade inferna de um Brasil pobre, racista e desigual.

“Sobrevivendo no Inferno” já chegou até nas mãoes do Papa Francisco. Em 2015, o disco foi o presente escolhido pela então prefeito de São Paulo Fernando Haddad durante um seminário no Vaticano. A ideia do presente foi repassada por um grupo de jovens da periferia ao coordenador de Políticas para Juventude, Cláudio Aparecido da Silva. A capa do LP “Sobrevivendo no Inferno” tem uma cruz e o Salmo 23, capítulo 3: “Refrigere minha Alma e guia-me pelo caminho da Justiça”. Faixas do disco como “Genesis” e “Capítulo 4, Versículo 3”, compostas por Mano Brown, têm trechos bíblicos. O álbum aborda questões relacionadas à desigualdade social, racismo, entre outras. Um dos maiores sucessos é “Diário de um Detento”, inspirado no diário de Jocenir, ex-detento do Presídio do Carandiru.

O álbum é tão emblemático para a música brasileira que a revista Rolling Stone classificou Sobrevivendo no Inferno como o 14º melhor álbum da história da música brasileira. Se antes o gênero rap era marginalizado e restrito ao público periférico, após esta obra o rap passou a ter penetração no mercado musical brasileiro com suas músicas tocando em rádios e se popularizando entre as mais diferentes classes sociais. Lembrando que Racionais não foram os primeiros a fazer rap no Brasil, mas são responsáveis por abrir caminho para o surgimento de diversos outros artistas consolidados atualmente.

CANÇÕES FORTES E EMBLEMÁTICAS

“Sobrevivendo no Inferno” começa com um pedido de proteção ao santo, na versão de “Jorge da Capadócia” (do ídolo Jorge Benjor), e termina com um “Salve” “para as comunidades do outro lado do muro”. Entre uma e outra, nove canções (há também uma instrumental) alternam protesto e crônica urbana. As duas pérolas do disco são “Capítulo 4, Versículo 3” e “Diário de Um Detento”. Na primeira, Mano Brown dá voz a um personagem que acabaria sendo eternamente associado a ele: o rapper que é a encarnação do ódio, que não dá risada, não abaixa a cabeça para ninguém (nem polícia, nem patrão, nem bandido) e só teme a Deus. E a segunda, baseada em texto de um presidiário do Carandiru, Jocenir, é o mais bem acabado retrato do inferno carcerário nacional. Lançada cinco anos após o massacre dos 111 presos, ganhou um videoclipe impactante e impulsionou a fama do grupo para além do gueto.

1. “Jorge da Capadócia” (Jorge Ben Jor)
2. “Genesis (Intro)” (Mano Brown)
3. “Capítulo 4, Versículo 3” (Mano Brown)
4. “Tô Ouvindo Alguém me Chamar” (Mano Brown)
5. “Rapaz Comum” (Edi Rock) 
6. “… (instrumental)” (Edi Rock)
7. “Diário de um Detento” (Jocenir; Mano Brown) 
8. “Periferia é Periferia (Em Qualquer Lugar)” (Edi Rock) 
9. “Qual Mentira Vou Acreditar?” (Edi Rock; Mano Brown)
10. “Mágico de Oz” (Edi Rock) 
11. “Fórmula Mágica da Paz” (Mano Brown)
12. “Salve” (Ice Blue; Mano Brown)