José Loreto e Débora Nascimento: a intimidade exposta em praça pública e a nossa hipocrisia

Quem será a próxima vítima a ser execrada em praça pública aguardando para ser engolida pelos urubus escondidos atrás de um falso anonimato de um IP?

Marcelo Albuquerque
Por Marcelo Albuquerque
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As redes sociais se transformaram em um verdadeiro reality show com direito a lavada de roupa suja, indiretas e desabafos, tudo ali, feito da forma mais pública e escancarada possível ao melhor estilo pão e circo, do jeito que o diabo gosta. Aliás, quanto mais cabeluda a estória, mais atiçada fica a curiosidade alheia e, claro, mais pedras atiradas em forma de cliques, curtidas, compartilhamentos e comentários como santos sem nenhum pecado.

Essa semana, a bola da vez foi o Zé. Não um Zé qualquer. É o Zé Loreto, ator global, que por conta de uma suposta pulada de cerca, teve a vida dele, da esposa, Débora Nascimento, da filhinha e, de carona, da Marina Ruy Barbosa e de outros famosos, expostas em praça pública com todo mundo metendo a colher em um assunto de marido e mulher, como se tivesse direito de entrar na intimidade de uma pessoa. Ah! Mas pessoas públicas tem a obrigação de prestar contas à opinião pública. Não, não tem! Tratam-se de pessoas, como eu e você, que tem direito à privacidade como qualquer mortal. À propósito, direito garantido por lei, conforme prevê a Constituição Federal no art. 5.º, inciso X que trata de proteger a privacidade assegurando a todo indivíduo, direitos invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Após receber a sentença de maior fdp do país – até surgir o próximo – o famoso Zé, se viu na obrigação (como se tivesse) de se explicar diante de tanta porrada recebida por gente que ele sequer conhece. “Peço a todos que, neste momento, me dêem a oportunidade de reencontrar o silêncio necessário para que a gente possa voltar a se ouvir”, escreveu em seu Instagram.

Enquanto o Zé trata da surdez coletiva, Saramago nos lembra o quanto somos cegos. “É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade”.

O Zé, a Débora, a Marina, vão sair logo dos holofotes cruéis do Coliseu que virou a Internet, até surgir a próxima vítima. Em tempos de julgamentos prévios e sentenças em primeira instância, ai do peixe (graúdo ou não) que der uma escorregada e cair nas redes sociais. Quem será a próxima vítima a ser execrada em praça pública aguardando para ser engolida pelos urubus escondidos atrás de um falso anonimato de um IP? Eu ou você?

Enquanto isso, deixemos o povo em paz.