‘Olá, tudo bem?’: a trajetória e o legado que Paulo Henrique Amorim deixa para o jornalismo brasileiro

Há 58 anos no jornalismo, Amorim faleceu na manhã desta quarta-feira (10), deixando o legado do jornalismo livre que não se cala

Bianca Stephania Siarom
Por Bianca Stephania Siarom
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Irreverente, gênio sarcástico, pai, esposo, amante dos felinos de peito aberto (e corajoso), o filho do jornalista e estudioso do espiritismo Deolindo Amorim, Paulo Henrique Amorim nos deixou na manhã desta quarta-feira (10), por conta de um infarto fulminante, aos 77 anos. “Boa Noite e Boa Sorte”, ficará apenas na saudade, assim como o eterno cumprimento: “Olá, tudo bem?”. Eu sei, você leu com a voz do mesmo, sempre ao iniciar (ou finalizar) o programa Domingo Espetacular, pela TV Record, o qual trabalhou durante longos 13 anos e há cerca de um mês havia sido afastado.

Resultado de imagem para paulo henrique amorimImagem: Conversa Afiada / Reprodução

Uma perda imensurável de um dos mais antigos, combatíveis e gênios do jornalismo brasileiro. Paulo teve passagens por grandes emissoras de TV: estreou no jornal A Noite, em 1961. Em seguida, trabalhou em Nova York, como correspondente internacional da revista Realidade e, depois, da revista Veja. Passou pela extinta TV Manchete e pela TV Globo, também como correspondente internacional em Nova York. Em 1996, trabalhou na TV Bandeirantes, onde era apresentador do Jornal da Band e do programa Fogo Cruzado. Depois, teve passagem pela TV Cultura, onde apresentou o Jornal da Cultura. Em 2003, foi contratado pela Record TV, onde permaneceu por 13 anos no comando do programa Domingo Espetacular. Amorim mantinha o seu blog Conversa Afiada, onde tratava de assuntos polêmicos e exibia suas opiniões políticas sem medo algum de represália. Conversas afirmam que este foi um dos motivos de seu afastamento da TV Record. Ele também atuava ativamente no Youtube, com o mesmo blog. O jornalista já ganhou vários prêmios, entre eles o Esso de jornalismo, o maior prêmio da categoria no Brasil.

Resultado de imagem para olá tudo bem paulo henrique amorimImagem: TV Record / Reprodução

O jornalista Michael Keller, em entrevista à Record TV, descreveu Amorim como um jornalista grandioso. “Uma pessoa polêmica? Sim! Mas ninguém pode tirar a contribuição dele. Ele era um homem do contraditório. Um homem muito contundente, mas ele também ouvia quando a gente falava”. Paulo foi sem sombra de dúvidas o jornalista mais processado deste período digital. Alguns processos, justificáveis. Como cada um de nós, ele também errava, mas não fugia do debate. Apesar de jornalista, ele não deixava de expor suas opiniões pessoais, principalmente em suas próprias redes sociais e, em seu blog Conversa Afiada, onde ele falava sobre política, economia e personalidades. 

Paulo também era popular e adorado: “A gente chegava na rua para gravar matéria e todo mundo reconhecia que a gente era do programa do Paulo Henrique Amorim”, disse Keller ao descrever a popularidade do famoso bordão “olá, tudo bem”, afirma Keller.

Imagem relacionadaImagem: TV Record / Reprodução

Amorim foi responsável por grandes reportagens no país, uma delas, ao apresentar o Jornal da Band, em agosto de 1998, onde ele acusou o então candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva de adquirir um apartamento e carro de maneira ilegal. O político provou o contrário e ganhou na Justiça o direito de resposta. Com um grande faro de jornalista, também foi o primeiro a notar Neymar, ainda nas categorias de base do Santos, quando o jogador estava com as “canelas finas” driblava seus companheiros adolescente. Apesar das inúmeras críticas ao Neymar recentemente, Paulo foi o primeiro jornalista a dar espaço e destaque ao atleta. Foi ele também quem convidou a modelo e apresentadora Ana Hickman para trabalhar na Record: “Foi ele quem deu a minha primeira oportunidade”.

Resultado de imagem para paulo henrique amorim ana hickmannImagem: TV Record / Reprodução

Às vezes, o jornalista ainda utilizava do humor para noticiar fatos. Em seu blog, vários podcasts fizeram sucesso onde ele mesmo se põe em uma situação constrangedora ou com uma charge de duplo sentido. 

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Além disso, seus seguidores acompanhavam a saga de Paulo em trabalhar ao lado de seus felinos.

d24230cc35a4913f01d6280e89e3035c.jpgImagem: Instagram / Reprodução 

Paulo Henrique Amorim nos deixou no dia 10 de julho, mas também deixou um grande legado para o jornalismo brasileiro. Trabalhou incansávelmente em busca de uma imprensa com credibilidade e competência, tem bagagem de sobra para provar isso. Não fugia de debates, não poupava seus amigos e nem os ditos “inimigos”, que nesta hora, não sobrou espaço para desavenças. Todo o jornalismo do país sofre com a perda de mais um profissional de êxito que deixa todo um trabalho de exemplo para sua área. Icônico, cheio de bordões e de uma voz inconfundível; Amorim era respeitado em todas as emissoras de TV, até mesmo aquelas em que ele não gostava de tocar no nome. 

348b8cf0b73292b63ccc35426f1ace3d.pngImagem: TV Record / Reprodução

O jornalista deixa quatro livros publicados, uma imensa carreira de 58 anos, a mulher e jornalista Geórgia Pinheiro, sua filha Maria Amorim, seus dois felinos e o legado do jornalismo livre que não se cala.