País tem que plantar 2 mil árvores por minuto para recuperar a Amazônia

'Projeto audacioso' de reflorestamento do bioma vai atingir menos de 5% a partir de 2018. Ainda é pouco, diz pesquisadores

Adelina Lima
Por Adelina Lima
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A destruição da Amazônia ao todo, nas últimas décadas, equivale ao tamanho da Suiça ou a 4 milhões de campos de futebol. São pelo menos 4 milhões de hectares de destruição, segundo especialistas.

Mas um projeto que se diz “audacioso” e “o maior da história” vai recuperar, até 2023, pelo menos 30 mil hectares do bioma, cerca de 4,52% do que foi desmatado na Amazônia. As ações devem começar neste ano de 2018 e, apesar de importante, ainda é pouco. 

“Apesar de ser sempre louvável que algo seja feito, ao invés da inação, o projeto é completamente insuficiente para compensar, minimamente, o que é destruído”, diz o pesquisador senior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antonio Donato Nobre.

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 (Foto: Bruno Kelly)

De acordo com Nobre, para que o país atinja essas e outras metas até pelo menos 2030, o país teria que plantar 2 mil árvores por minuto. O cálculo considera a perda provocada pela eliminação da vegetação, normalmente para dar lugar a pastos ou plantações (corte raso).

Só no período de agosto de 2016 a julho de 2017, dados do INPE mostram que a taxa de desmatamento atingiu 6.624 quilômetros quadrados de corte raso. Pará, Mato Grosso, Rondônia e Acre estão entre os Estados onde o problema é mais crítico. Para chegar à área pretendida de 30 mil hectares, o projeto demandará um investimento total de US$ 10 milhões, equivalente a R$ 33 milhões.

Preservar e reflorestar 

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Para salvar o que resta das florestas tropicais não basta acabar com o desmatamento. Uma análise da situação da floresta amazônica mostra que há outras interferências humanas dificultam sua recuperação, como o corte seletivo, os incêndios e a pressão da pecuária e da agricultura. A retirada de árvores contribui para tornar o clima “inóspito”, segundo os especialistas, e pode transformar grandes extensões territoriais do Brasil em desertos.

Pós-doutor em Ecologia e Gestão da Biodiversidade, Rodrigo Medeiros, da Conservation International, explica que manter a floresta em pé traz benefícios como a regulação do clima do planeta e do ciclo hidrológico – o movimento contínuo da água dos oceanos, continentes (superfície, solo e rocha) e na atmosfera.

“Cada hectare de floresta restaurada funciona como uma espécie de bomba dupla que ao mesmo tempo absorve carbono da atmosfera, reduzindo os efeitos das mudanças climáticas, enquanto bombeia para a atmosfera milhares de litros de água, sob a forma de vapor, essencial para a manutenção do regime hidrológico do continente”, explica Medeiros. Ele lembra ainda que 60% das chuvas que caem sobre o Sudeste, Sul e Centro Oeste são provenientes da Amazônia. E sem a floresta, a chuva não alcança essas regiões.

O reflorestamento é obrigatório desde 16 de setembro de 1965 devido a Lei Federal 4.771. O Código Florestal Brasileiro declara que os consumidores de matéria-prima florestal como a madeira e os seus derivados tem a obrigação de reflorestar o equivalente ao que foi consumido para que não haja um déficit de árvores.

Além dessa lei que faz parte do código florestal existe outra que determina o reflorestamento obrigatório. Trata-se da lei estadual 10.780 de 9 de março de 2001.

(Imagem destaque: “Amazônia | Os Extremos” – Agência de Jornalismo Independente Amazônia Real)

Informações BBC Brasil