Por colega deficiente, alunos têm dia com cadeira de rodas no interior de São Paulo
Atividade proposta por professor, a fim de inspirar empatia, surpreende
Por conta de uma paralisia cerebral, frequentar a turma do 4º ano, passou a exigir para Kauã Henrique da Silva Fotunado, 9, bastante exforço e disciplina pois seus movimentos de mãos e pernas foram comprometidos e ele precisa de ajuda para se deslocar cerca de 30 metros quando quer ir ao banheiro ou ao intervalo.
Ciente do esforço e visando insentivar a empatia nos alunos, o professor Leandro Ferreira decidiu propor uma atividade aos pequenos colegas: compreender os desafios da limitação física de Kauã usando eles mesmos uma cadeira de rodas.
Uma vez a cada dois dias, um aluno da turma do 4º ano C da escola municipal Reginal Mallouk, de São José do Rio Preto, é escolhido para se locomover sobre rodas.
“Eles têm que ir ao banheiro, ao recreio, apontar o lápis e fazer todas as atividades na cadeira de rodas“, afirma o professor.
Desde que começou ser aplicada, a atividade logo desertou a atenção de todas as crianças:
“A gente acha que é fácil ficar em uma cadeira de rodas porque só fica sentado, mas é bem difícil. Dói as costas e os braços. E tudo o que vamos fazer demora muito muito mais“, conta Micael dos Santos Lopes, 9.
Micael dos Santos conduz o colega Kauã na cadeira de rodas – Ferdinandoo Ramos/Folhapress
A ideia do professor parece ter agradado o garoto, “O humor e o comportamento dele melhoraram depois que ele passou a ver os colegas em uma cadeira de rodas. Penso que ele se sentiu igual e está mais feliz” conta Roselaine Silva, estagiária e auxiliar do menino nas atividades escolares.
Vários alunos já passaram pela experiência, e todos os alunos que participaram da atividade, hoje disputam os cuidados com o Kauã:
” Todo mundo quer ajudar ele, empurrar a cadeira dele. Dá até briga” diz Gabriella Fernanda da Cunha, 9.
“A gente vai revezando, cada dia é a vez de um ajudar o Kauã“, conta Miguel Coelho da Silva, 9.
Kauã teve paralisia cerebral durante o parto, o que comprometeu o seu desenvolvimento motor e cognitivo.
O garoto sorri para os amigos e, mesmo com a dificuldade na fala, diz o quanto gosta de estar ali. “Eu amo vir à escola“.
Micael passou o dia como cadeirante para entender os desafios de Kauã Fortunado, 9, que tem paralisia cerebral – Ferdinando Ramos/ Folhapress
“Quando o professor me procurou falando do projeto, fiquei feliz por ver que eles se preocupam com o bemestar do Kauã. A interação dele com outras pessoas melhorou bastante. Ele não gosta de faltar à escola por nada“, diz mãe de Kauã, Kele da Silva Souza.
Antes da atividade ser implantada a mesma passou pela aprovação dos pais e dos alunos, que aceitaram o desafio. Então, todos os 28 alunos da classe – e também o professor – já passaram pelo “dia do cadeirante”. Agora o projeto foi estendido a todos os funcionários da escola.
Segundo João Cardoso Palma filho, pedagogo, doutor em educação e especialista em política educacional da Unesp a ideia do docente desenvolve nas crianças um espírito solidário:
“Vai influenciar na formação do caráter delas, à medida em que educa em relação ao diferente e facilita a convivência entre os diferentes“.
Matéria feita com base em dados encontrados no site Folha de São Paulo.