Cidade goiana de natureza exuberante tem mais imóveis que pessoas. Descubra porquê.
A peculiaridade de Rio Quente, em Goiás, com mais domicílios do que habitantes, reflete uma tendência observada em outros 17 municípios brasileiros segundo dados do Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este censo, realizado decenalmente, coleta dados sobre a população residente no Brasil, seguindo uma metodologia que inclui entrevistas presenciais e, pela primeira vez em 2022, a possibilidade de coleta por meio da Internet em situações específicas. A amostragem estratificada adotada pelo IBGE considera como estrato o setor censitário, com diferentes frações amostrais definidas de acordo com o tamanho da população do município, visando a precisão e representatividade dos dados coletados.
O censo é uma operação de grande escala que, em 2022, envolveu a previsão de visitar cerca de 75 milhões de domicílios para recensear mais de 215 milhões de habitantes em todas as cidades brasileiras. A tecnologia teve um papel crucial nesta edição, com o uso de dispositivos equipados com sinal 3G e 4G para a transmissão em tempo real das informações coletadas, além do gerenciamento digital dos deslocamentos dos recenseadores e a utilização de recursos como “nuvens” na internet para suporte de comunicações e tráfego de dados.
O cenário encontrado em Rio Quente sugere uma característica particularmente interessante para estudos demográficos e de urbanização, possivelmente indicando uma alta proporção de imóveis voltados para o turismo ou segundas residências, um fenômeno não exclusivo, mas talvez mais perceptível em cidades com atrativos turísticos significativos. A disponibilização dos dados completos e detalhados do Censo 2022 pode ser acessada diretamente nos portais do IBGE, tanto emquanto em, onde é possível explorar uma ampla gama de informações sobre todas as cidades e estados do Brasil, suas populações, estruturas domiciliares, e muitos outros temas relevantes para a compreensão da dinâmica populacional e urbanística do país.
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A análise dos dados recentemente divulgados pelo Censo Demográfico 2022 do IBGE expande nossa compreensão sobre a distribuição de domicílios e residentes em várias cidades brasileiras, revelando um fenômeno particularmente interessante em localidades turísticas. Este fenômeno não se limita a Rio Quente, Goiás, mas se estende a diversas regiões do país, refletindo uma característica marcante em cidades cuja economia e estilo de vida são significativamente influenciados pelo turismo.
Um exemplo notável é o município de Arroio do Sal, situado no litoral norte do Rio Grande do Sul. Esta cidade, conhecida por suas praias atraentes e infraestrutura acolhedora para visitantes, registra um número de domicílios que supera em 7.800 o total de seus residentes habituais, tendo uma população de aproximadamente 11,1 mil habitantes. Essa discrepância sublinha a presença de uma grande quantidade de residências secundárias, possivelmente usadas para veraneio ou aluguel de temporada, uma prática comum em áreas de elevado interesse turístico.
Além de Arroio do Sal, outras cidades turísticas ao longo do Brasil apresentam situações semelhantes. Ilha Comprida em São Paulo, Matinhos no Paraná, Ilha de Itamaracá em Pernambuco, Mangaratiba no Rio de Janeiro, e Saubara na Bahia, são exemplos onde o número de domicílios supera o de residentes permanentes. Esse padrão é especialmente prevalente em regiões litorâneas, onde a atratividade das praias e a oferta de lazer e descanso atraem investimentos em imóveis voltados para o turismo.
No caso específico do litoral norte do Rio Grande do Sul, a concentração de cidades com essa peculiaridade é notável, sendo Arroio do Sal um dos destaques pela sua elevada proporção de domicílios por habitante, chegando a uma média de 1,7 residência por pessoa. Esta estatística indica não apenas a importância do turismo para a região mas também levanta questões sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais dessa dinâmica, como a pressão sobre recursos locais fora da temporada turística e os desafios para a gestão municipal em atender tanto às necessidades dos residentes quanto às dos visitantes temporários.
Essas observações apontam para a relevância de políticas públicas e estratégias de desenvolvimento urbano que equilibrem os benefícios econômicos do turismo com a sustentabilidade e qualidade de vida dos habitantes locais. Ao mesmo tempo, destacam a importância de estudos demográficos detalhados, como os realizados pelo IBGE, para entender melhor as características e necessidades de diferentes regiões do Brasil, permitindo intervenções mais eficazes e adaptadas às realidades locais.
Foto: Prefeitura de Rio QuenteAo aprofundar o olhar sobre a região do litoral norte do Rio Grande do Sul, notamos a existência de diversos municípios que exibem a peculiaridade de possuírem mais domicílios do que habitantes, um fenômeno que vai além de Rio Quente, em Goiás. Entre essas cidades gaúchas, destacam-se Xangri-Lá, Cidreira, Balneário Pinhal e Palmares do Sul, todas marcadas pela atraente combinação de praias e infraestrutura que favorece o turismo e, consequentemente, a aquisição de imóveis para veraneio.
O fenômeno não é restrito ao Rio Grande do Sul. Uma análise mais ampla revela que entre os dez municípios brasileiros com a maior relação de domicílios por habitante encontram-se também Jaguaruna em Santa Catarina, Pontal do Paraná no Paraná, Imbé no Rio Grande do Sul, Ilha Comprida em São Paulo, e Saubara na Bahia, com taxas que se aproximam de 1,2 residência por pessoa. Essa tendência sublinha a atração dos imóveis de lazer e a importância do turismo nas economias locais dessas cidades.
Mangaratiba, no Estado do Rio de Janeiro, merece destaque especial por abrigar condomínios de alto padrão e ser conhecida por possuir entre seus imóveis uma residência do renomado jogador de futebol Neymar. Com uma população de 41.220 habitantes, Mangaratiba atrai visitantes principalmente da zona oeste do Rio e da Baixada Fluminense, especialmente aos fins de semana. O Poção de Muriqui, um encantador curso d’água que nasce do encontro de três cachoeiras e deságua na praia de Muriqui, é um dos pontos turísticos mais procurados. Este local oferece uma experiência única aos visitantes com suas águas cristalinas e calmarias, ideal para o lazer familiar .
Por outro lado, Matinhos, localizada no litoral do Paraná, tem demonstrado um compromisso significativo com o desenvolvimento do turismo e a preservação de suas praias. A cidade investiu expressivamente cerca de R$ 314,9 milhões no alargamento de sua orla, utilizando 3,2 milhões de metros cúbicos de areia, o equivalente a 220 mil caminhões. Essa iniciativa não apenas visa impulsionar o turismo mas também combater a erosão costeira, um desafio comum em diversas cidades litorâneas pelo Brasil. Essas ações refletem uma tendência observada nacionalmente, em que municípios litorâneos buscam no alargamento de suas praias não apenas uma estratégia para estimular o turismo mas também um meio de mitigar problemas ambientais, garantindo a sustentabilidade e a atração turística de suas praias a longo prazo.