Procissão do Fogaréu leva visitantes para uma noite de mistério e fé na cidade de Goiás

A Procissão do Fogaréu é, sem dúvida, um dos eventos mais emblemáticos da Semana Santa no Brasil, e é particularmente destacada em Goiás, onde adquire uma dimensão cultural e religiosa profunda. A procissão, que tem suas raízes em uma tradição europeia, foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses e encontrou em Goiás, especialmente na cidade de Goiás (antiga capital do estado), um solo fértil para se desenvolver e ganhar características únicas.

A Procissão do Fogaréu é uma representação dramática da busca e prisão de Jesus Cristo. Ela ocorre à meia-noite da Quinta-feira Santa, com a iluminação pública apagada e ao som de tambores. A procissão começa na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, na praça principal da cidade.

Os participantes principais são 40 homens encapuzados, conhecidos como farricocos, que representam os soldados romanos que perseguiram Jesus. Vestidos com túnicas reluzentes de cores vibrantes, eles seguem descalços pelas ruas da cidade histórica, carregando tochas e entoando músicas sacras. A procissão segue um percurso específico, fazendo paradas em locais que representam diferentes partes da história da Paixão de Cristo. A primeira parada é na Igreja do Rosário, que representa o local da Última Ceia. Em seguida, o grupo avança para a Igreja de São Francisco de Paula, que simboliza o Jardim das Oliveiras, onde Cristo foi preso.

Ao som do clarim, surge o estandarte com a imagem de Jesus, carregado pelo único farricoco vestido de branco, simbolizando a captura de Cristo.  O Bispo de Goiás encerra a cerimônia. A Procissão do Fogaréu é um evento que atrai milhares de pessoas, incluindo fiéis, turistas e moradores locais, que assistem ao espetáculo e marcham juntamente aos farricocos.

Origem e desenvolvimento da Procissão do Fogaréu

A Procissão do Fogaréu tem suas raízes na Europa medieval, mais especificamente em tradições católicas ibéricas que visavam representar os momentos que antecedem a prisão de Jesus Cristo. No Brasil, a prática chegou com os colonizadores portugueses no século XVIII, adaptando-se às realidades locais e ganhando novos contornos em cada região onde foi introduzida.  Na cidade de Goiás, a procissão é documentada desde 1745, refletindo a intensa vivência religiosa da comunidade local.

Significado da Procissão do Fogaréu

A Procissão do Fogaréu em Goiás Velho ocorre na madrugada da Quarta-feira Santa para a Quinta-feira Santa, simbolizando a busca e a prisão de Jesus Cristo pelos soldados romanos. Nesta procissão, cerca de 40 homens encapuzados, representando os fariseus, percorrem as ruas históricas da cidade apenas iluminadas por tochas, criando um espetáculo visual e emocional único. O silêncio da noite, apenas quebrado pelos passos dos participantes e pelas orações dos fiéis, contribui para uma atmosfera de introspecção e reverência.

Os participantes, conhecidos como “farricocos”, usam túnicas coloridas e capuzes, ocultando suas identidades e simbolizando os soldados romanos. A multidão que acompanha a procissão carrega velas, iluminando o caminho e participando ativamente do ato de fé.

Importância cultural da Procissão do Fogaréu

Além de seu significado religioso, a Procissão do Fogaréu é um evento de grande importância cultural e turística para Goiás. Ela atrai visitantes de diversas partes do Brasil e do mundo, interessados em vivenciar essa manifestação única de fé e tradição. O evento também desempenha um papel crucial na preservação da identidade cultural goiana, mantendo viva a história e as tradições locais.

Para a cultura goiana, a Procissão do Fogaréu é um símbolo de resistência e perseverança, representando a capacidade da comunidade de manter suas tradições vivas através dos séculos. É uma expressão da rica tapeçaria cultural do estado, que entrelaça elementos religiosos, históricos e sociais, oferecendo aos observadores uma janela para o passado e um momento de reflexão sobre o significado da fé e da comunidade.

Em suma, a Procissão do Fogaréu não é apenas um evento religioso; é um pilar da identidade goiana, um atrativo turístico significativo e uma manifestação cultural que transcende as barreiras do tempo, mantendo viva a memória de uma tradição que se renova a cada ano, ao mesmo tempo em que fortalece os laços comunitários e a fé das pessoas.

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10 curiosidades sobre os misteriosos farricocos da Procissão do Fogaréu

1 | Soldados

Eles participam do Fogaréu, que acontece na Cidade de Goiás, interpretando os soldados romanos que prenderam Jesus na noite da Santa Ceia. No final da Idade Média e início da Moderna, o farricoco possuía um caráter de penitência e estigmatização. Sua presença nas procissões estava relacionada à expiação pública de faltas cometidas e ser farricoco era ser portador de um estigma;

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

2 | Identidade Secreta

Faz parte da tradição manter o sigilo sobre a identidade dos participantes, até mesmo pelo fato de terem os rostos cobertos pelas máscaras o tempo todo! Não importa o calor; o importante é seguir a tradição do anonimato, conforme é feito também por penitentes públicos de países da Europa. O ato de penitência deve ser mantido em sigilo e nunca se vangloriar dele, como demonstração de humildade e resguardo;

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

3 | Invenção

Tudo começou em 1785, com a iniciativa de um padre espanhol na Cidade de Goiás e voltou a acontecer em 1965, pela Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat);

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

4 | 3 toques

Os farricocos estão prontos para seguir três diferentes ritmos de caminhada durante a procissão, que aumentam o ritmo conforme seguem o trajeto de pedras, sempre embalados pela música da fanfarra;

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

5 | Quantos são?

O número é o mesmo desde sempre: 40 farricocos saem em caminhada a meia-noite da quarta-feira da Semana Santa;

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

6 | Ku Klux Kan?

Eles até lembram os integrantes da Ku Klux Kan, mas não têm nada a ver com eles. Ainda bem! Os seus chapéus servem como uma alusão aos galhos das árvores, que crescem apontando para o céu. Outro sentido para os chapéus em forma de cone é a evocação de uma aproximação do penitente ao céu;

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

7 | Trajeto

Eles saem da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, seguem para a Igreja Nossa Senhora do Rosário, encenando aí a Última Ceia e continuam até a Igreja São Francisco de Paula. É no ponto final do trajeto que acontece uma celebração religiosa em que uma imagem de Jesus Cristo é hasteada;

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

8 | “Farricofobia”

Pode parecer loucura, mas tem gente que não gosta nada dos Farricocos, especialmente as crianças. Só quem já ouviu dos pais que vão ser levados embora pelos farricocos sabem o que é medo!

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

9 | Descalços, coloridos, encapuzados

Eles sempre andam descalços, mesmo sobre o chão de pedras da Cidade de Goiás. Isso faz parte do ato de penitência realizado pelos Farricocos. Já as roupas coloridas são tradição e nunca passam em branco! A seguir, um breve traçado histórico que vai lhe explicar direitinho o quão antiga e tradicional é a vestimenta dos farricocos.
“Na Idade Moderna (séculos 15 a 18), em algumas partes de Portugal e Espanha, o farricoco estava associado à penitência, a uma punição imposta àqueles que não seguissem as determinações da Igreja. Nas procissões que iam pelas estradas de pedras, à luz dos archotes, os cavaleiros das irmandades iam vestidos de roupas de seda, com espadas de prata e alamares, cheios de pompa e luxo na busca do Cristo, com o objetivo de aprisioná-lo. Junto deles iam os “desviantes”, vestidos com roupas de lá grosseira, como os pescadores, e com um capuz com chapéu em forma de cone, que devia ser usado pelos “condenados”, correndo descalços para acompanhar os cavalos. Era uma forma de os penitentes expiarem seus pecados sem ter que revelar publicamente sua identidade.
Com o passar do tempo, na Espanha, os farricocos passaram a ser responsáveis por manter a ordem, afastando as pessoas do caminho, ora anunciando a procissão com o uso de matracas, ora fustigando com um comprido relho os que impediam sua marcha.”
Texto retirado da nossa matéria fotográfica sobre a procissão de Fogaréu.

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

10 | Eu quero ser um farricoco!

Se você quer ser um deles, prepare-se para um mar de emoções! Os relatos de quem já foi um farricoco são vários e dentre eles se destacam a sensação de calor (já era esperado, né?), de receio (todo cuidado é pouco para não queimar as vestimentas dos colegas), de emoção (especialmente para quem participa pela primeira vez) e nervosismo (nada de errar o trajeto ou esquecer a encenação).
Segundo organização do evento, para ser um farricoco é preciso ter em média 1,70 de altura e adicionar o seu nome à lista de espera para as próximas edições do evento, por meio do email [email protected]. Boa sorte!

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Foto: Curta Mais/Marcos Aleotti.

Imagens retiradas da nossa matéria fotográfica sobre a procissão de Fogaréu.

7 dicas para quem vai acompanhar a Procissão do Fogaréu pela primeira vez

 A Procissão do Fogaréu é o tipo de evento que todo goiano tem obrigação de conhecer. Tradição na cidade desde 1745, o ritual simboliza a procura e a prisão de Cristo. Cerca de 40 homens encapuzados e com tochas, os farricocos, representam os soldados romanos.

 Embora para algumas pessoas participar da cerimônia seja uma tradição, para outras, esse ano será a primeira vez na procissão. Para salvar os visitantes de primeira viagem de gafes e transtornos, preparamos uma listinha que promete ajudar a aproveitar melhor o evento.

  1. Sapato confortável

 Pode parecer dicazinha clichê, mas é bem comum ver pessoas perdendo sapatos, arrebentando rasteirinhas, machucando o pé e até mesmo caindo durante a procissão. Então, evite sandálias abertas e leve um sapato confortável de preferência que proteja os pés.

  1. Tome cuidado no caminho

 Como falado no item anterior, é bem comum ver acidentes no caminho, muitas vezes isso acontece porque o terreno da Cidade é irregular e para acompanhar os farricocos é necessário que o visitante caminhe de forma mais rápida. Além disso, as luzes do município são apagadas o que dificulta um pouco enxergar o caminho. Logo, todo cuidado se faz necessário.

  1. Tome cuidado com objetos

A Cidade de Goiás recebe muitos visitantes nesse período por causa da Procissão. Durante o percurso, por causa da quantidade de pessoas, se por acaso um objeto como relógio, celulares caírem no chão pode ser que ele seja pisoteado.

  1. Fique alerta com as tochas

Muito comum nesses eventos, são turistas querendo tirar fotos dos farricocos, o problema é o fogo das tochas podem causar acidentes. Embora os farricocos possuem treinamento para não ficarem próximos as pessoas quando as tochas estão acesas, tome cuidado você também e ajude evitar acidentes .

  1. Leve a sua garrafinha

Pode ser que bata aquela sede quando você está acompanhando a procissão. Se você não quer perder nenhum minuto da cerimônia por causa da vontade de tomar água, leve uma garrafinha e problema resolvido.

  1. Coma antes da Procissão

Segundo a Ludmilla Borges Pires, de 33 anos, moradora da Cidade, é muito comum ver turistas passando um apuro no fim da cerimônia. Depois do evento muitos restaurantes fecham. Então não deixe para matar a fome no final da Procissão, coma antes.

  1. Crianças

A ‘caminhada’ começa a meia noite de quinta-feira, um horário puxado para crianças. Além disso, a meninada pode ficar assustada com as vestes e as tochas dos farricocos, o barulho dos tambores, lembrando também que a cidade fica no escuro durante a cerimônia. Para os papais que querem ensinar desde cedo a cultura local para os baixinhos, acontece na quarta-feira mas às 17h o Fogaréuzinho que é uma procissão para crianças. A cerimônia começa em frente ao Museu das Bandeiras com tochas simbólicas e sem fogo. O percurso é bem menor e a ‘caminhada’ é mais tranquila.

(Foto: reprodução Postal Brasil)