Filha mais nova de Gabriel Nasser, Consuelo Nasser nasceu em 28 de dezembro de 1938 na Fazenda Campo Formoso, localizada entre as cidades de Caiapônia e Bom Jardim. Poucos anos mais tarde Consuelo e sua irmã, Maria Stella Nasser, foram levadas para Uberlândia (MG), para ser criada pela irmã mais velha de seu pai, a libanesa Anna. Seu pai estava doente e, necessitando de cuidados médicos específicos, foi transferido para o Rio de Janeiro.
Um ano após sua mudança para o Rio de Janeiro, Maria Stella e Consuelo Nasser receberam a notícia da morte de seu pai e o novo casamento de sua mãe. No decorrer dos dois anos que passou na casa de seus tios, Consuelo e sua irmã frequentaram o Colégio Nossa Senhora das Lágrimas. No ano de 1945, as duas irmãs mudaram para o Rio de Janeiro e ingressaram no Colégio São Marcelo. Ao fim de 1945, as duas meninas voltaram para Goiás onde foram criadas pelo tio Alfredo Nasser. Para Consuelo, Alfredo era como um pai.
Consuelo viveu em uma pequena casa da rua 71, no Bairro Popular, com seus tios e sua irmã. O tio das meninas, Alfredo Nasser, trabalhava no Jornal do Povo, por ele fundado em 1946, e no Senado Federal no Rio de Janeiro. Consuelo e sua irmã foram então matriculadas no Colégio Estadual Lyceu de Goyaz. Ao finalizar seus estudos em 1956, Consuelo viaja de volta para o Rio de Janeiro a fim de prestar vestibular pela Faculdade Nacional de Direito onde é aprovada em 7° lugar aos 17 anos.
No ano de 1960, Consuelo se forma em terceiro lugar em uma turma marcada pela superioridade masculina. A jovem garota se dedicava dia e noite inteiramente aos estudos. Só se permitia momentos de descanso para participar de reuniões da União Estadual dos Estudantes (UEE), ou para encontrar seu tio quando ele estava na cidade. Durante seu período de estudos Consuelo se apaixonou por obras de diferentes escritores. A escritora que mais a marcou foi Simone de Beauvoir como ícone do feminismo.
Consuelo aderia ali à crença beauvoiriana de que ninguém nasce mulher, mas se torna. Seu trabalho no jornalismo começaria em Goiânia, no início de 1959. Na época, Goiânia passava por um conturbado momento de crise política. Estudantes secundaristas protestavam por seus direitos quando o governador, José Feliciano, determinou violenta repressão contra a passeata. No dia 5 de março de 1959, a ação imposta pelo então governador resultou na morte de um jovem.
Um grupo que fazia parte do movimento se reuniu na casa de Alfredo Nasser e decidiram criar um jornal com a data do massacre como nome. Consuelo conseguiu convencer o tio a lhe doar as oficinas do Jornal de Notícias para ajudar na viabilização do Jornal Cinco de Março. A jovem retorna para Goiânia em 1962, dois anos após concluir o curso no Rio de Janeiro. Na ocasião, a sobrinha de Alfredo Nasser assume cargo de meio período na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e a função de Redatora-Chefe do Jornal Cinco de Março.
Durante o Golpe Militar de 1964 o marido de Consuelo, Batista Custódio, é preso. Seu tio a avisa que o governador Mauro Borges também havia expedido um mandado de prisão para ela. Consuelo se refugia em Caiapônia. Por um período de cinco meses o Jornal Cinco de Março não circulou. Assim que retornou a suas atividades normais o jornal veiculou uma matéria que denunciava um rombo de cinco milhões de reais nos cofres da Polícia Militar de Goiás. O local foi invadido por policiais que destruíram máquinas e documentos.
Mesmo sob ataques e ameaças, o Jornal Cinco de Março continuou a atuar como principal veículo de denúncia aos ataques de corrupção. Foi só em 1970, sob o governo do general Emílio Médici, que o Jornal adotou uma linha editorial mais branda e cuidadosa. Consuelo cuidou das editorias, do administrativo e do processo de soltura do marido que, preso novamente, permaneceu na prisão por cerca de oito meses.
Toda sua luta e trabalho lhe rendeu meios e condições para montar a estrutura do jornal Diário da Manhã em 1980. Consuelo já se encontrava esgotada em meio à tantas batalhas e, em 1982, decide se afastar do trabalho. Dois anos mais tarde, empecilhos de um governo autoritário obrigam Consuelo a voltar para a redação. Sob comando do governo de Iris Rezende, o Diário da Manhã havia sido fechado. Consuelo funda então o jornal Edição Extra que tem sua circulação interrompida em 5 de fevereiro de 1985.
Decidida a voltar para o jornalismo e com economias de sua amiga Rosângela Mota, Consuelo e seu filho Júlio Nasser criam a Revista Presença. A mídia era produzida e editada apenas por mulheres. A nova tecnologia de digitalização lançada em São Paulo fez com que a Revista rodasse por lá. A Revista Presença circulou até abril de 1991 quando Iris Rezende retornou ao poder governamental e Consuelo decidiu não mais lutar.
Afastada do jornalismo e do meio empresarial, Consuelo se uniu a outras mulheres para criar uma entidade que ousasse questionar publicamente a violência contra a mulher. A morte de Eliane de Grammont, em março de 1981, pelas mãos do goiano Lindomar Castilho foram a gota d’água para Consuelo. Para ela já estava encerrado o período em que matar mulheres era socialmente tratado como algo normal e aceitável.
Através de reuniões na casa de sua amiga Linda Monteiro, o grupo de mulheres lideradas por Consuelo Nasser fundaram o Centro de Valorização da Mulher (Cevam). O espaço foi fechado pelo prefeito Daniel Antônio em 1985. Cinco meses depois, o governador Iris Rezende instalou a Primeira Delegacia Especial de Polícia de Defesa da Mulher, sendo esta a segunda do Brasil. Elencando conquistas, o Cevam foi responsável pela criação e instalação da Secretaria Estadual da Condição Feminina.
Em 2012 foi aprovada na Câmara Municipal de Goiânia a Comanda Consuelo Nasser. Desde 2014 as 35 mulheres que combatem atos de ódio e violência contra a mulher recebem essa honraria.
O Cevam funciona até os dias de hoje no acolhimento de mulheres, adolescentes e crianças vítimas de violência doméstica, abuso sexual ou abandono. O local oferece serviços psicológicos e de saúde.
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Pauta desenvolvida pela estagiária de jornalismo Julia Macedo com a supervisão da jornalista Fernanda Cappellesso.