Goiana cria projeto que produz bonecas inspiradas em mulheres negras

Eliane Moreira, de 58 anos, une as habilidades de advogada e artesã para criar um projeto inovador que vai além da confecção de bonecas. A goiana, inspirada pela avó desde a infância, descobriu sua paixão pelo artesanato aos 7 anos, quando a avó transformava os desenhos da menina em peças de arte com linha e agulha. Esse amor ganhou forma com a criação do projeto “Bonecas Pretas”.

Atualmente, Eliane trabalha no Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), mas sua jornada no mundo das bonecas começou durante um curso de produção, enquanto esperava sua filha terminar uma aula de balé.

Apesar das dificuldades iniciais, enfrentando o desconhecimento sobre costura, Eliane persistiu e se tornou uma hábil artesã de bonecas.

Goiana cria projeto que faz bonecas inspiradas em mulheres negras

Foto: Maykon Cardoso/Alego

A inspiração para o projeto surgiu de um convite feito pela prima, que solicitou uma lembrança de maternidade representando uma criança negra.

A partir dessa encomenda, os pedidos começaram a se multiplicar, e Eliane percebeu o impacto significativo que suas criações podiam ter na representatividade das meninas negras.

Goiana cria projeto que faz bonecas inspiradas em mulheres negras

Foto: Maykon Cardoso/Alego

 

O Projeto ‘Bonecas Pretas’

Lançado em 2018, o projeto “Bonecas Pretas” é uma iniciativa única e personalizada. Eliane elabora as bonecas de acordo com as características específicas de quem as encomenda, incluindo cabelos cacheados e outros detalhes personalizados.

As meninas participam ativamente do processo, escolhendo tecidos e posando para fotos que se transformam em adesivos, adornando as caixas de suas bonecas.

Eliane destaca a importância do aspecto afetivo na entrega das bonecas durante eventos, proporcionando às meninas uma experiência especial.

Cada edição do projeto revela a carência que as mulheres negras tinham de se verem representadas, gerando um impacto emocional significativo.

Em um dos momentos marcantes do projeto, Eliane presenciou uma mãe emocionada durante uma sessão de fotos da filha. Ela sentiu que estava no caminho certo!

Além de atender às demandas das crianças, a artesã também confecciona bonecas personalizadas para mulheres mais velhas, incluindo duas com mais de 80 anos.

Goiana cria projeto que faz bonecas inspiradas em mulheres negras

Foto: Maykon Cardoso/Alego

Em dezembro, Eliane realizou uma exposição na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego): a sexta edição do projeto Bonecas Pretas.

Nesta edição, a idealizadora do projeto escolheu oito mulheres para serem homenageadas. O único critério na escolha é que as mulheres sejam negras. As fotos são desse evento.

Entre as homenageadas está a professora Cecília. A educadora ganhou uma boneca preta, com suas características, uma verdadeira personificação. Ela relata a paixão pelas bonecas.

“Eu tenho uma coleção de bonecas negras e ter uma boneca negra personalizada não tem preço. É algo indescritível, é emocionante. Mas, por outro lado, eu penso no tanto que essa perspectiva da representatividade é importante para as crianças negras.”

Sonhos e projeto futuro com as bonecas

O sucesso do projeto “Bonecas Pretas” motivou Eliane a sonhar mais alto. Sua visão inclui a expansão do projeto para escolas, onde a representatividade e a diversidade possam ser introduzidas desde cedo.

Eliane acredita que, ao proporcionar às crianças bonecas que refletem a diversidade étnica, é possível criar impactos positivos e inspirar uma nova geração.

A história de Eliane Moreira e seu projeto “Bonecas Pretas” não é apenas sobre bonecas; é sobre quebrar barreiras, desafiar estereótipos e oferecer às meninas negras a oportunidade de se reconhecerem na arte.

Eliane está moldando um caminho de representatividade que vai além do artesanato, impactando vidas e construindo pontes para um futuro mais inclusivo e diverso.

 

Outro projeto de bonecas no Brasil

Uma startup de impacto social do Rio de Janeiro, distribui gratuitamente 2 mil bonecas negras de diversas profissões em escolas da rede municipal de educação infantil.

Jaciana Melquiades, professora, educadora social, historiadora e consultora educacional de igualdade racial, além de sócia-fundadora e diretora executiva da ‘Era Uma Vez o Mundo’, acredita que brinquedos podem servir como uma ferramenta de transformação social, por isso, as bonecas que sua empresa produz podem exercer um impacto positivo para a formação das subjetividades naqueles que brincam.

Bonecas negras tem a capacidade de fazer crianças enxergarem de forma humanizada pessoas negras, de uma forma lúdica. A partir deste brinquedo, as crianças se veem, se sentem representadas, criam noção de existência, pertencimento e percebem que há também um lugar no mundo para elas.

“Podemos mostrar que é possível transformar a educação e debater a pauta racial através do lúdico. Mas não só debater, promover um enfrentamento real ao racismo desde a menor infância, de forma a construirmos um futuro possível e saudável”, ressalta a importância dessa ação.

Fotógrafa recria princesas da Disney como referência para meninas negras

A maioria das princesas da Disney são brancas, não deixando espaço para a representatividade das meninas negras. Pensando nisso, a fotógrafa Symone Seven, de Atlanta, nos Estados Unidos, decidiu recriar as capas dos filmes para mostrar que meninas negras também podem ser princesas.

A modelo do ensaio é a prória Symone, que interpreta Cinderella, Jasmine, Ariel, Rapunzel, Pocahontas e várias outras personagens que fizeram parte da infância de muitas mulheres.

“Eu crio autorretratos para inspirar as pessoas a sentirem orgulho de serem elas mesmas. Eu queria fazer algo para quem já se sentiu esquecido durante a quarentena. Nesta série, eu queria que meninas negras soubessem que também são princesas”, escreveu a fotógrafa na descrição do projeto.

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Uma publicação compartilhada por Symone Seven | Photoshop

Encontro de Mulheres Negras 30 anos acontece em Goiânia com os temas racismo e violência

Em dezembro, todos os caminhos levam as mulheres negras ativistas brasileiras a Goiânia. Elas participarão do Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos: Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver – Mulheres Negras Movem o Brasil, de 6 a 9 de dezembro, na capital do estado de Goiás.

Será um encontro histórico. Um momento para celebrar e avaliar os 30 anos do primeiro encontro nacional, que aconteceu em 1988, um marco no empoderamento das mulheres negras. Desde março deste ano, as ativistas estão realizando encontros nos seus estados e refletindo sobre como estão os seus direitos nos lugares onde vivem e em todo o país.

Além disso, contará com a presença da filósofa Angela Davis que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história dos Estados Unidos.

A iniciativa conta com o apoio do fundo de investimento social Elas e da ONU Mulheres Brasil. A campanha de financiamento coletivo tem como mobilizadoras online as defensoras dos direitos das mulheres negras da ONU Mulheres Brasil, Kenia Maria e Taís Araújo, e da embaixadora da ONU Mulheres Brasil, Camila Pitanga. Para o evento acontecer está sendo arrecadado fundos por meio de doações voluntárias neste site.

Serviço

Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver – Mulheres Negras Movem o Brasil

Onde: Vila Cultural Cora Coralina – Rua 3, s/n – St. Central
Quando: do dia 6 ao dia 9 de dezembro das 8h às 18h
Mais informações: @mulheresnegras30anos