10 poemas de Cora Coralina que você não pode deixar de conhecer

Ana Lins dos Guimarães Peixoto é o nome de batismo de Cora Coralina, escritora brasileira que começou a publicar os seus trabalhos aos 76 anos de idade, em Goiás-GO. Uma coisa muito intrigante sobre o trabalho de Cora, é o fato dela ter cursado apenas até a terceira série do primário e mesmo assim escrever tão bem e de forma tão clara! 

Por muito tempo, a autora levava a escrita apenas como um hobby, e vendia doces para ganhar a vida. Sua poética é baseada no cotidiano e ela retrata a vida com delicadeza e muita sabedoria. 

Confira abaixo 10 poemas que você precisa conhecer para se encantar: 

 

1- Aninha e Suas Pedras 

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.

 

2- Mulher da Vida

Mulher da Vida,

Minha irmã.

De todos os tempos.

De todos os povos.

De todas as latitudes.

Ela vem do fundo imemorial das idades

e carrega a carga pesada

dos mais torpes sinônimos,

apelidos e ápodos:

Mulher da zona,

Mulher da rua,

Mulher perdida,

Mulher à toa.

Mulher da vida,

Minha irmã.

 

3- Assim eu Vejo a Vida 

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

 

4- Becos de Goiás 

Becos da minha terra…

Amo tua paisagem triste, ausente e suja.

Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.

Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.

E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,

e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,

calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.

Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,

Descendo de quintais escusos sem pressa,

e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.

Amo a avenca delicada que renasce

Na frincha de teus muros empenados,

e a plantinha desvalida de caule mole

que se defende, viceja e floresce

no agasalho de tua sombra úmida e calada

 

5- Ressalva 

Este livro foi escrito

por uma mulher

que no tarde da Vida

recria a poetiza sua própria

Vida.

Este livro

foi escrito por uma mulher

que fez a escalada da

Montanha da Vida

removendo pedras

e plantando flores.

Este livro:

Versos… Não.

Poesia… Não.

Um modo diferente de contar velhas estórias.

 

6- Mascarados 

Saiu o Semeador a semear

Semeou o dia todo

e a noite o apanhou ainda

com as mãos cheias de sementes.

Ele semeava tranquilo

sem pensar na colheita

porque muito tinha colhido

do que outros semearam.

Jovem, seja você esse semeador

Semeia com otimismo

Semeia com idealismo

as sementes vivas

da Paz e da Justiça.

 

7- Considerações de Aninha 

Melhor do que a criatura,

fez o criador a criação.

A criatura é limitada.

O tempo, o espaço,

normas e costumes.

Erros e acertos.

A criação é ilimitada.

Excede o tempo e o meio.

Projeta-se no Cosmos.

 

8- Meu Destino 

Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,

interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –

íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos

Passavas com o fardo da vida…

Corri ao teu encontro.

Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado

com a pedra branca

da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos

juntos pela vida…

 

9- Ofertas de Aninha

Eu sou aquela mulher

a quem o tempo

muito ensinou.

Ensinou a amar a vida.

Não desistir da luta.

Recomeçar na derrota.

Renunciar a palavras e pensamentos negativos.

Acreditar nos valores humanos.

Ser otimista.

Creio numa força imanente

que vai ligando a família humana

numa corrente luminosa

de fraternidade universal.

Creio na solidariedade humana.

Creio na superação dos erros

e angústias do presente.

Acredito nos moços.

Exalto sua confiança,

generosidade e idealismo.

Creio nos milagres da ciência

e na descoberta de uma profilaxia

futura dos erros e violências

do presente.

Aprendi que mais vale lutar

do que recolher dinheiro fácil.

Antes acreditar do que duvidar.

 

10- Mãe 

Renovadora e reveladora do mundo

A humanidade se renova no teu ventre.

Cria teus filhos,

não os entregues à creche.

Creche é fria, impessoal.

Nunca será um lar

para teu filho.

Ele, pequenino, precisa de ti.

Não o desligues da tua força maternal.

Que pretendes, mulher?

Independência, igualdade de condições…

Empregos fora do lar?

És superior àqueles

que procuras imitar.

Tens o dom divino

de ser mãe

Em ti está presente a humanidade.

Mulher, não te deixes castrar.

Serás um animal somente de prazer

e às vezes nem mais isso.

Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.

Tumultuada, fingindo ser o que não és.

Roendo o teu osso negro da amargura.

 

Foto: Reprodução Google

5 escritores goianos que todo mundo deveria ler

A cultura goiana é rica em seus mínimos detalhes. Desde a história, a culinária maravilhosa, a cultura, festas, festivais e procissões, os goianos mandam bem em todos os aspectos. Dessa vez, no entanto, o destaque vai para os grandes nomes da literatura que fazem das palavras suas obras de arte.

É importante destacar que, a literatura tem um papel fundamental na formação de todos os indivíduos. Ela é a responsável por estimular a criatividade, a imaginação e por auxiliar na construção de diversos conhecimentos. 

Pensando nisso, listamos abaixo 5 escritores goianos que merecem sua atenção e que são muito importantes para a Literatura Goiana. Confira:

 

Cora Coralina

Provavelmente é uma das autoras mais reconhecidas na literatura brasileira. Tendo concluído apenas a 4ª série do ensino fundamental, Cora encanta a todos que entram em contato com seus livros, poemas, poesias e artigos que destilam a alegria de viver. Seu primeiro livro foi lançado em junho de 1965, quando já tinha quase 76 anos de idade.

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”Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.”

 

 

José Godoy Garcia

Natural de Jataí, José morou no Rio de Janeiro na década de 30 e ao retornar para Goiás publicou o “Rio do Sono”, que fala do fazer poético e do que inspira um escritor. Além disso, o autor teve diversas obras publicadas como: Araguaia Mansidão (1972); Aqui é a Terra (1980); Entre Hinos e Bandeiras (1985); Os morcegos (1987); Os dinossauros dos sete mares (1988) dentre outros.

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”Os Sobreviventes

Quando todos imaginavam a vida sem sentido

chegaram de manhã os sobreviventes,

e levantaram suas moradas, estiveram no rio,

procuravam o rebanho disperso, preparavam

o alimento, cantavam, derramavam

o suor nos campos, faziam fogo à noite

rememoravam o corpo de suas mulheres,

despachavam os barcos, pela manhã.

As chuvas eram sempre bem-vindas,

as chuvas levantavam o pó da terra

e enchiam de confiança a face da vida.

As mulheres viam nascer dentro de si

um novo rebento, os seus ventres cresciam.

Nenhum sinal de confiança quando as mulheres

apareciam de ventre crescido.

Os dias eram os mesmos, a esperança

e a desesperança eram as mesmas.”

 

J.J. Veiga

Veiga entrou para o rol dos escritores notáveis da literatura nacional com obras como “Os cavalinhos de Platiplanto”, “A hora dos ruminantes” e “A Máquina Extraviada”. Recebeu o prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras em 1997. O autor nasceu em Corumbá de Goiás e é considerado um dos maiores escritores em língua portuguesa do realismo fantástico.

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”Escrevo para conhecer melhor o mundo e as pessoas. Quem prestar atenção verá que os meus livros são indagativos, não explicativos. Isso faz deles um jogo ou um brinquedo entre autor e leitor; ambos indagando, juntos ou não, e descobrindo – ou não. Os meus textos são um exercício, ou uma aventura, ou um passeio intelectual. Eles não ‘acabam’ no sentido tradicional, e nesse não acabar é que entra a colaboração do leitor. Mais tarde encontrei esta frase num livro de Julien Gracq: ‘Escrevo para saber o que vou encontrar’. Fiquei feliz.”

 

Bernardo Élis

Também nascido em Corumbá de Goiás, Élis foi o primeiro e único membro goiano da Academia Brasileira de Letras. Foi poeta, contista e romancista, além de advogado e professor.

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”Tarde de Novena

Ingenuidade macia das tardes de novena,

com os sinos dos Passos batendo,

pausado, molengo,

sobre o poente que pegou fogo.

Fervores honestos gemendo

sobre o poente que se alarga e se estende,

congesto,

pela noite adentro,

pondo rubras palpitações

nas trevas do ocidente,

– grandes borboletas de fogo

espanejando cegas sobre as essas.”

 

Gilberto Mendonça Teles

O escritor faz parte do seleto grupo de autores de Goiás que ultrapassaram as fronteiras do estado e ganharam visibilidade na literatura brasileira. Nascido em Bela Vista de Goiás, é conhecido tanto pela sua produção poética como pelos seus importantes estudos sobre o modernismo e a vanguarda na poesia.

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”No Foz do Tejo

E todavia a trave na garganta

e a grossa mão medrosa sem poder

interpretar sequer o que repete,

o que soletra, o que rumina há séculos,

nós, gagos de Babel, babamos versos.”

 

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Nega Lilu Editora abre edital de seleção para novas autoras e autores goianos

Autoras e autores goianos ou residentes no estado de Goiás, inéditos ou éditos com até três anos de atuação no campo literário: este é o perfil que a Nega Lilu Editora busca a partir da publicação de edital para seleção de poemas, contos e crônicas que deverão compor a Coleção e/ou. As inscrições podem ser feitas até 17 de janeiro de 2017 no site oficial.

A Coleção e/ou tem por objetivo reunir novos talentos da literatura goiana e escritores convidados em antologias de poesia e prosa. Até o momento, 38 autoras e autores foram publicados (sendo 22 inéditos) nas coletâneas “Os olhos do bilheteiro” e “As dores de Josefa”, fruto de processos seletivos realizados em 2014 e 2015. Além dos investimentos da Nega Lilu Editora e da Casa da Cultura Digital, os livros também contaram com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

“Um dos desafios deste novo edital é alcançar de forma mais ampliada a produção literária de qualidade que está ativa fora da capital e da região metropolitana de Goiânia”, conta a escritora Larissa Mundim, diretora da Nega Lilu Editora. Segundo ela, as duas primeiras antologias publicadas fazem registro do trabalho de jovens escritores residentes em municípios como Bela Vista de Goiás, Anápolis, Trindade, Aparecida de Goiânia, bem como de goianos residentes em outros estados e no DF. “Agora temos a ambição de ir mais longe”, revela a editora.

Para Larissa Mundim, “ir mais longe” significa não somente mobilizar aspirantes a escritores nas outras regiões do estado, mas avançar no mapeamento de autores e autoras ativos, em Goiás, promovendo a conexão desta rede. “Como editora, a Nega Lilu se interessa, naturalmente, pela produção literária, mas apoia iniciativas que impactam na cadeia produtiva integralmente, ou seja, iniciativas que visam a qualificação de leitores, articulação entre autores e entre autores e leitores, além da circulação da obra literária em todo o Brasil”, diz.

 

Edital

De acordo com o edital 2016 da Coleção e/ou, cada autor ou autora poderá inscrever até três textos literários inéditos. O conselho editorial responsável pelo concurso vai considerar “inédito” poemas, crônicas e contos que ainda não tiverem sido publicados em formato físico. Qualidade, atualidade, técnica e potencial de difusão são os pilares técnicos e conceituais que vão nortear o processo seletivo. O calendário divulgado pela Nega Lilu Editora prevê publicação do resultado final em 30 de janeiro de 2017.

 

O edital informa também que o lançamento das novas antologias da Coleção e/ou está condicionado à captação de recursos financeiros. “Temos um processo democratizado de seleção, com critérios bem definidos, conselho editorial legítimo, divulgação ampliada pela imprensa. A realização de um trabalho qualificado, de ponta a ponta, nos oferece boas condições de aprovação deste projeto junto aos mecanismos de incentivo à Cultura, como ocorreu no volume 1 de prosa e poesia”, lembra Larissa Mundim.

 

Serviço

Edital para seleção de texto literário: Coleção e/ou – volume 2

Inscrições em: Site Nega Lilu Editora

Período de inscrições: até 17 de janeiro de 2017

 

Teatro Sesc recebe espetáculo em homenagem ao escritor Walmir Ayala

Inspirado na obra de Walmir Ayala, a Companhia Teatral Face & Carretos traz a Goiânia o espetáculo, O Monstro de Olhos Verdes, ou por quem morrem as pombas? A montagem dirigida por Camilo de Lélis marcou as comemorações dos 80 anos de nascimento de Walmir Ayala (1933-1991), autor de mais de uma centena de livros, entre romances, contos, antologias poéticas, peças de teatro, ensaios, memórias e literatura infanto-juvenil.

 

Espetáculo O Monstro de Olhos Verdes

Quando: 07/11/2015

Horário: às 18:00 e 20:00h

Local: Teatro Sesc – Rua 15 esquina com Rua 19, St. Central.

Entrada Franca