Especialistas explicam como identificar altas habilidades

Com acompanhamento personalizado, conheça ainda exemplos de atividades que estimulem a independência, a criatividade e o pensamento crítico dessas crianças

Redação Curta Mais
Por Redação Curta Mais

Não é raro sermos surpreendidos com algum mini gênio. Nesta semana, o pequeno Daniel Mascarenhas da Silva, de apenas 2 anos e 10 meses, viralizou ao falar três idiomas: inglês, russo e coreano. Ao G1, a mãe do menino contou que ele aprendeu a ler e escrever em português ainda no seu primeiro ano de vida. Mas porque será que isso acontece? Especialistas esclarecem essas e outras questões sobre altas habilidades ou superdotação.

A neuropsicóloga e especialista em Neurociência Aplicada à Educação Camila Ferrari explica que ela pode ser descrita como a presença de uma capacidade excepcional em uma ou mais áreas do conhecimento ou da atividade humana. Mas, segundo ela, tais habilidades precisam estar dentro de uma categoria considerada muito superior em comparação com pares da mesma idade, que tenham oportunidades e ambientes semelhantes. Mas como observar? Há sinais? De acordo com Ferrari, Joseph Renzulli, um dos maiores teóricos no campo da AHSD descreve as características dentro do Modelo dos Três Anéis.

Essa teoria é analisada em três campos: 1. habilidade intelectual superior (capacidade de aprendizado e raciocínio acima do esperado para a sua faixa etária); 2. comprometimento com a tarefa (interesse profundo e persistente em tópicos de seu interesse, com foco satisfatório mantido por longos períodos, especialmente em áreas de interesse e 3. criatividade, demonstrada através de ideias inovadoras e soluções originais para problemas. “Do ponto de vista emocional, pessoas superdotadas podem ter um senso de justiça acentuado, vivenciar de forma mais intensa suas emoções e guardarem elevado nível de exigência em relação a si”, adiciona Camila Ferrari.

 

A especialista da Clínica Neurodesenvolvendo, destaca que a identificação de indivíduos com AHSD geralmente envolve uma avaliação neuropsicológica bem conduzida, aliada a observação dos familiares, escola e equipe de saúde assistente. “Esta avaliação integrada possibilita a distinção desta condição de outras relacionadas ao neurodesenvolvimento, como o TDAH, TEA ou transtornos de aprendizagem”, pontua.

 

Diagnóstico

Luciana Melo Dias, Diretora de Formação Integral da unidade Lago Sul do Colégio Everest, também explica que a indicação para a avaliação neuropsicológica de alunos com altas habilidades pode ser feita com base em vários sinais observados dentro da sala de aula. Esses sinais podem variar, mas geralmente incluem:

  • Desempenho Acadêmico: alunos com altas habilidades muitas vezes demonstram um desempenho acadêmico excepcional em uma ou mais áreas, frequentemente ultrapassando os colegas de mesma idade.
  • Aprendizado Rápido: esses alunos costumam aprender novos conceitos rapidamente e com menos repetição em comparação com seus colegas.
  • Curiosidade e Interesse: mostram uma curiosidade intensa e um interesse profundo em temas específicos, frequentemente fazendo perguntas avançadas e buscando informações adicionais por conta própria.
  • Pensamento Crítico e Criativo: demonstram habilidades de pensamento crítico e criativo, sendo capazes de resolver problemas de maneira inovadora e original.
  • Independência: muitas vezes preferem trabalhar de forma independente, têm autossuficiência na busca por soluções e podem apresentar liderança em atividades de grupo.
  • Capacidade de Foco e Concentração: podem se concentrar profundamente em áreas de interesse por longos períodos, mostrando um nível de dedicação incomum para sua faixa etária.
  • Vocabulário Avançado: possuem um vocabulário rico e complexo para a idade, bem como habilidades verbais avançadas.
  • Sensibilidade Emocional e Social: alguns alunos com altas habilidades podem mostrar uma sensibilidade emocional acentuada ou preocupações com questões éticas e de justiça. Além de apresentarem comportamentos desafiadores e questionadores.
  • Desinteresse e desestimulação em atividades para a faixa etária: atividades para a faixa etária são rejeitadas e a criança demonstra desinteresse e insatisfação.

Por isso, conforme Dias, o aprendizado dessas crianças precisa ser individualizado para atender a necessidades específicas. “Individualizar o ensino para alunos com altas habilidades é crucial para manter seu engajamento, promover o desenvolvimento contínuo e evitar problemas como desmotivação, frustração e isolamento social”, aponta.

Já Anne Nerosky, Orientadora de Formação Integral também da unidade Lago Sul do Colégio Everest, acrescenta que para atender às necessidades de alunos com altas habilidades, é importante usar métodos e estratégias que desafiem e estimulem seu potencial, atendendo de forma personalizada cada criança de acordo com suas habilidades, características, individualidades, necessidades e área de interesse. “Alguns métodos e estratégias incluem enriquecimento curricular, plano de ensino individualizado (PEI), agrupamento por habilidades, projeto individual na sala de recursos para aprendizagem independente com acompanhamento personalizado, uso de tecnologias, tutoria e mentoria, atendendo e revisando sempre os métodos e estratégias para cada aluno dentro de seus interesses e necessidades”, exemplifica.

Nerosky comenta que essas estratégias ajudam a garantir que alunos com altas habilidades sejam constantemente desafiados e engajados, permitindo que desenvolvam plenamente seu potencial. Além dos métodos mencionados, alguns outros aspectos e estratégias podem ser considerados para reforçar o processo de aprendizagem de crianças com altas habilidades, como: a avaliação contínua e diagnóstica, o ambiente de apoio emocional, o estímulo à criatividade, a flexibilidade no currículo, o estabelecimento de metas, a promoção da aprendizagem social, programas de estudo avançado, e ainda, o envolvimento da família.

Segundo Luciana Dias é importante incorporar atividades que incentivem a criatividade e o pensamento crítico, como resolução de problemas complexos, projetos artísticos, e atividades de brainstorming. A diretora de formação também destaca o envolvimento da família. “É preciso que a família esteja dentro do processo educacional, para isso, escola e especialistas devem fornecer informações e recursos para apoiar o desenvolvimento do aluno em casa pensando sempre em sua formação integral”, conclui.