Boi gordo: recorde a história da pirâmide financeira que deu golpe até no Rei do Gado
Nos anos 1980, foi fundada a empresa Engorda de Gado nas Fazendas Reunidas Boi Gordo, conhecida popularmente como Boi Gordo. O negócio tinha como garoto-propaganda o ator Antônio Fagundes, protagonista à época da novela O Rei do Gado, onde a Boi Gordo fazia inserções publicitárias nos intervalos comerciais, com dizeres como “quem tem cabeça investe em gado”.
A Boi Gordo incentivava brasileiros a investirem em títulos da empresa, em compra de bois nelore, criados em fazendas das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Os interessados adquiriam ou 18 bois, em pagamentos mensais durante 18 meses, ou 30 bois de uma vez, mediante pagamento de R$ 245 por cabeça (o que hoje, com valores corrigidos pela inflação, corresponderia a cerca de R$ 2.150). Os investidores poderiam resgatas as aplicações após 18 meses, com promessa de lucros superiores a 40%.
A “oportunidade” chamou a atenção até de Antonio Fagundes e Benedito Ruy Barbosa, protagonista e autor da novela, respectivamente. De acordo com o Jornal do Brasil, ambos investiram na empresa.
No entanto, o negócio se tratava, na verdade, de um esquema de pirâmide. A empresa remunerava os clientes mais antigos com o dinheiro dos novos investidores. Até que o dinheiro deixou de entrar, e a pirâmide ruiu em 2001.
Segundo a revista Veja, 32 mil pessoas saíram prejudicadas, num rombo que chegou a R$ 6 bilhões, conforme a falência da empresa, em 2004.
Famosos Prejudicados
Fagundes e Ruy Barbosa também caíram no conto da Boi Gordo e hoje integram a massa falida da empresa. Outros globais deram com os burros (ou bois) n’água, como a atriz Marisa Orth e o designer Hans Donner, criador do logotipo da Globo, além de celebridades do mundo do futebol como os ex-jogadores Evair, Vampeta, César Sampaio e o técnico pentacampeão Luiz Felipe Scolari. Até o “Tremendão” Erasmo Carlos entrou na fria.
Os mais prejudicados, porém, foram cidadãos de classe média: 70% dos credores da Boi Gordo fizeram aplicações inferiores a R$ 40 mil. Em termos geográficos, a gama de investidores é proveniente de todos os estados do país e de outros 18 países como Alemanha, Argentina, França, Inglaterra, Estados Unidos, Suíça e Portugal, por exemplo.
Fazenda Boi Gordo
Uma propriedade de 6.133 hectares que pertenceu à massa falida das Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. foi vendida em Mato Grosso por R$ 146 milhões. Localizada no município de Comodoro, 640 quilômetros a noroeste de Cuiabá, a fazenda foi adquirida por meio de leilão em 2017 pela AGBI Real Assets por R$ 28,8 milhões. Cinco anos depois da compra, a gestora entregou aos investidores uma rentabilidade de 3,15 vezes o valor investido e uma taxa interna de retorno de 22,3% ao ano.
O comprador não teve seu nome revelado, mas segundo Gustavo Fonseca, sócio da AGBI, é um grande produtor de grãos que já atua na região. Durante esses cinco anos que a fazenda esteve sob a posse e gestão do fundo, 2.765 hectares de pastagens foram convertidos em áreas agrícolas, o que permitiu que a área tivesse uma valorização superior à valorização das terras, medida pela IHS Markit. No mesmo período, o dólar teve uma valorização de 51,3%, o Ibovespa subiu 55,8% e a NTN-B acumulou ganhos de 66,6%.
Mas o dinheiro que deveria ter sido pago aos mais de 30 mil credores de uma das maiores falências da história do Brasil serviu para engordar o patrimônio do Grupo Golin, grande conglomerado do agronegócio.
Associação dos Lesados pela Fazenda Reunidas Boi Gordo S/A (ALBG) e Empresas Coligadas e Associadas
A associação tem cerca de 8.400 pessoas cadastradas e mais de R$ 500 milhões em créditos a receber. O diretor da ALBG, José Luiz Peres, é ex-corretor da empresa. Também há grupos de credores não reunidos em associações.
Para conhecer a associação basta acessar o site, clicando AQUI.
Como não cair em golpes financeiros
O crime de pirâmide financeira está tipificado em diversos artigos do Código Penal.
É comum que os fraudadores cometam outros crimes em paralelo, como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e por aí vai.
O primeiro passo é desconfiar de promessas de ganho fácil e rápido.
Sem um robusto plano de negócio, com garantias contratuais bem definidas, prestação regular de contas e a supervisão de um órgão regulador, é melhor ficar de fora.
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Fotos de capa: Banco de Imagens