Projeto em Goiás reduz em 50% os casos avançados de câncer de mama em mulheres acima de 40 anos

Saiba os detalhes sobre o estudo realizado em Itaberaí

Suzana Goncalves
Por Redação Curta Mais
Projeto em Goiás reduz em 50% os casos avançados de câncer de mama em mulheres acima de 40 anos
Foto: Freepik

Pela primeira vez no Brasil, um estudo clínico randomizado envolvendo mulheres acima de 40 anos apontou uma redução de 50% nos casos de câncer de mama diagnosticados em estágio avançado. Os dados, ainda preliminares, são resultados do Projeto Itaberaí, liderado pelo mastologista e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ruffo de Freitas Júnior, referência nacional no combate ao câncer de mama no sistema público de saúde.

A pesquisa é realizada no município goiano de Itaberaí e se destaca como o único estudo brasileiro com evidências consistentes sobre o impacto do exame físico das mamas, feito de forma sistemática por agentes comunitárias de saúde treinadas continuamente. A iniciativa é do Centro Avançado de Diagnóstico do Câncer de Mama (Cora), vinculado ao Hospital das Clínicas da UFG, e é administrada pela Fundahc com recursos da Prefeitura de Itaberaí e do Ministério Público de Goiás (MP-GO). O objetivo é avaliar se essa estratégia pode antecipar o diagnóstico da doença, reduzir os casos em estágios mais avançados (3 e 4) e, no longo prazo, contribuir para a diminuição da mortalidade por câncer de mama.

Antecipar o diagnóstico é essencial

De acordo com o pesquisador, o foco do projeto é atuar antes mesmo do diagnóstico, uma etapa frequentemente negligenciada no cuidado oncológico. Dados da Unicamp revelam que podem se passar mais de 300 dias entre o momento em que a mulher percebe uma alteração na mama e o início do tratamento. Embora as leis federais 12.732/2012 (Lei dos 60 dias) e 13.896/2019 (Lei dos 30 dias) estabeleçam prazos para início do tratamento e diagnóstico, respectivamente, aproximadamente 58% das pacientes ainda não conseguem iniciar o tratamento dentro do período determinado.

“O Projeto Itaberaí foca justamente nesse intervalo invisível entre o primeiro sintoma e a confirmação da doença”, explica Ruffo. Um dos pontos-chave da iniciativa foi a reorganização do fluxo de atendimento, com o uso de tecnologias como aplicativos desenvolvidos especialmente para orientar e monitorar o percurso da paciente desde o primeiro sinal até o diagnóstico.

Ruffo destaca que o projeto não altera a regulação da rede pública. As pacientes diagnosticadas seguem na mesma fila que as demais, mas conseguem chegar ao diagnóstico com mais agilidade. “Tem mulheres que, sem a intervenção, levariam cerca de 400 dias para começar o tratamento. Com o projeto, esse tempo caiu para 120 dias”, ressalta.

Exame físico feito por agentes treinadas

Diferente da mamografia, que detecta nódulos ainda não palpáveis, o exame físico realizado pelas agentes comunitárias identifica tumores já em fase inicial e que geralmente podem ser sentidos pela própria mulher. “Sete em cada dez casos atendidos pelo SUS começam com uma queixa palpável”, afirma Ruffo.

Um dos pilares do projeto é o investimento constante em educação e capacitação das profissionais de saúde. No início, muitas delas se sentiam inseguras, mas com o tempo passaram a realizar os exames com confiança e precisão. Segundo o coordenador, hoje essas agentes desempenham o exame físico com mais habilidade do que muitos médicos generalistas ou enfermeiros que não atuam diariamente com a saúde da mulher.

Modelo de baixo custo e resultados promissores

Além da eficácia, o projeto tem um custo considerado baixo: cerca de R$ 400 mil por ano. Para Ruffo, é um valor modesto diante do potencial de salvar vidas e evitar gastos maiores com tratamentos de câncer em estágio avançado. Apesar dos bons resultados, nenhuma outra cidade brasileira adotou o modelo até o momento.

A expectativa é que o estudo, que terá duração total de 16 anos e está atualmente em seu terceiro ano, siga fornecendo dados robustos que sustentem a formulação de políticas públicas mais eficazes, especialmente em regiões onde o acesso à mamografia é limitado.

“O que precisamos agora não é provar que funciona, mas entender por que ainda não o replicamos em outras partes do país. Quantas vidas ainda teremos que perder até colocarmos em prática o que já sabemos que dá certo?”, finaliza o pesquisador.

Projeto em Goiás reduz em 50% os casos avançados de câncer de mama em mulheres acima de 40 anos

Foto: divulgação

 

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Foto: divulgação

 

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Foto: divulgação/mastologista Ruffo de Freitas Júnior

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