Coringa: Delírio à Dois, uma obra de arte que desafia a compreensão

Longa está disponível nos cinemas da Grande Goiânia

Julia Macedo
Por Julia Macedo
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Foto promocional do filme

O público brasileiro acompanhou, na última quinta-feira (3), o lançamento do longa-metragem Coringa: Delírio à Dois. Dirigida por Todd Phillips, a obra segue a trajetória de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) após os acontecimentos de 2019, quando Coringa se torna representante de uma revolução contra a elite de Gotham City.

Preso no Hospital Psiquiátrico de Arkham, ele acaba conhecendo Harleen “Lee” Quinzel (Lady Gaga). A curiosidade mútua se transforma em paixão e obsessão, dando vida a uma relação romântica e doentia.

Lee e Arthur embarcam em uma desventura alucinada e fervorosa por Gotham City, enquanto o julgamento de Coringa se desenrola, impactando toda a cidade e suas próprias mentes conturbadas. A partir deste ponto a trama ganha voz.

Pode ser que você tenha ouvido por aí que a sequência de “Coringa” é uma decepção. No entanto, há grandes chances de que o seu enunciador não tenha compreendido a reflexão por trás da encenação, ou da trilha sonora tão característica. Talvez seu primeiro erro tenha sido comprar o ingresso esperando por uma performance como nos quadrinhos.

Alerta de spoiler!

Fanatismo e fantasia são explorados de forma profunda na sequência de Coringa. Todd Phillips constrói uma crítica ao entretenimento moderno enquanto entretém o público com elementos psicológicos e sensíveis.

No início, vemos um Arthur Fleck isolado e fragilizado, afetado por todas as humilhações enfrentadas no hospital psiquiátrico. A história toma outro rumo quando, incentivado por Lee, ele revive o Coringa e entra em um verdadeiro “Delírio à Dois”, não apenas com Lee, mas com a sociedade como um todo que apoia o retorno e a liberdade do Príncipe do Caos.

Fruto de sua própria filosofia, a obra provoca reflexões e certo desconforto no espectador. Desde a composição dos cenários até a adaptação do arquétipo musical, Phillips explora os dramas de uma investigação criminal, apresentando a perspectiva do investigado e os problemas mentais de um ícone vangloriado.

Logo ele ousa em desconstruir a imagem do anarquista, revelando o que o Coringa realmente simboliza: uma máscara que esconde a dor de Arthur Fleck por meio do humor ácido e assassino.

A versão de Coringa que Arthur criou ainda na infância serviu como uma defesa dissociativa aos traumas que sofreu. O personagem apresentado como uma figura maquiavélica é uma resposta a anos de bullying, dificuldades financeiras e violência doméstica.

A psicopatia surge como uma tentativa desesperada do personagem em se afirmar contra as normas sociais, adotando uma postura anarquista e violenta na esperança de mudar seu mundo.

Foto promocional. Lee no “julgamento do século”.

Conforme a narrativa avança Arthur percebe, de forma dura, que ninguém compreende suas dores. Suas piadas ácidas ferem não apenas a sociedade, mas sua vida e integridade. A forma como Phillips retrata isso, com a violência do sistema carcerário por exemplo, garante ainda mais peso crítico à história.

Para Arthur, a ideia de ser um “Príncipe do Caos” perde força quando entende que sua mensagem é apenas mais um espetáculo para o público. Sua declaração final vem carregada pela remoção da maquiagem, revelando a fragilidade por trás do personagem e desmascarando a ilusão que sustentou por tanto tempo.

Arthur Fleck se declara então apenas um homem. Sem vilania ele é apenas mais uma figura deprimente, psicopata, doentia e humana. O público que o aplaudia, incluindo Lee, vira as costas, fecham-se as cortinas e o show chega ao fim.

O último ato apresenta isso de maneira mais concreta quando um companheiro de prisão o mata e corta as próprias bochechas para formar o sorriso icônico do Coringa, dando início a uma nova interpretação do vilão de Batman.

O roteiro de Phillips desenha uma premissa que critica diretamente a sociedade que dá palco a psicopatas e serial killers, transformando histórias trágicas em um espetáculo.

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