A maior obra-prima do faroeste mudou o cinema e a cultura americana
Com sua estética inovadora, narrativa envolvente e personagens ambíguos, este faroeste redefiniu o gênero e deixou um legado duradouro no cinema. Sua influência ultrapassou as telas, moldando a cultura americana e inspirando gerações de cineastas, consolidando-se como um dos maiores marcos da sétima arte.


O faroeste, gênero cinematográfico que moldou a identidade cultural dos Estados Unidos, encontrou em “Era Uma Vez no Oeste” (Once Upon a Time in the West), de 1968, uma de suas expressões mais sublimes. Dirigido pelo italiano Sergio Leone, o filme não apenas redefiniu os parâmetros do western, mas também exerceu uma influência duradoura na cultura americana e mundial.
Sinopse e contexto histórico do filme de faroeste
Ambientado no deserto do Arizona, “Era Uma Vez no Oeste” narra a história de Jill McBain (interpretada por Claudia Cardinale), uma ex-prostituta que chega a uma cidade fronteiriça para encontrar a família do seu recém-marido, Brett McBain. Ao chegar, descobre que toda a família foi brutalmente assassinada por pistoleiros liderados por Frank (vivido por Henry Fonda), a mando do barão ferroviário Morton (interpretado por Gabriele Ferzetti), que deseja as terras dos McBain para expandir sua ferrovia. Jill une forças com o misterioso Harmonica (Charles Bronson) e o fora-da-lei Cheyenne (Jason Robards) para enfrentar Frank e seus capangas.
Lançado em uma época de transição cultural e social, o filme reflete as mudanças pelas quais os Estados Unidos passavam no final dos anos 1960, abordando temas como a chegada da modernidade, a ganância corporativa e o fim de uma era.
Inovações narrativas e estéticas do faroeste
Sergio Leone, já consagrado por seus trabalhos anteriores no gênero “spaghetti western”, elevou a narrativa cinematográfica a um novo patamar com “Era Uma Vez no Oeste”. O diretor utilizou planos longos e silenciosos para construir tensão, uma marca registrada de seu estilo. A sequência de abertura, por exemplo, é uma aula de construção de suspense, com três pistoleiros aguardando a chegada de um trem em uma estação deserta, sem diálogos por vários minutos.
A trilha sonora, composta por Ennio Morricone, é outro elemento fundamental. Cada personagem principal possui um tema musical distinto, que complementa sua personalidade e motivações. O uso da música como elemento narrativo enriquece a experiência do espectador, tornando-se inseparável das imagens.
Além disso, Leone subverteu expectativas ao escalar Henry Fonda, conhecido por papéis de mocinho, como o vilão Frank. Essa escolha chocou o público da época e adicionou profundidade ao personagem, mostrando um lado sombrio de um ator tradicionalmente associado a figuras heroicas.
Impacto do faroeste na cultura americana
“Era Uma Vez no Oeste” transcendeu as fronteiras do cinema, influenciando profundamente a cultura americana. O filme ofereceu uma visão mais sombria e realista do Velho Oeste, contrastando com os faroestes idealizados das décadas anteriores. Essa abordagem ressoou com o público contemporâneo, que começava a questionar mitos e narrativas estabelecidas.
A representação da chegada da ferrovia como símbolo de progresso, mas também de destruição e ganância, reflete as ambivalências da modernização americana. O personagem de Morton, o barão ferroviário debilitado, personifica a corrupção moral que frequentemente acompanha a busca pelo progresso a qualquer custo.
O filme também influenciou gerações de cineastas americanos. Diretores como Quentin Tarantino e Martin Scorsesecitaram “Era Uma Vez no Oeste” como uma influência significativa em seus trabalhos, adotando elementos como a construção de suspense, a complexidade dos personagens e o uso inovador da música.
Recepção crítica e legado
Embora inicialmente tenha recebido críticas mistas nos Estados Unidos, “Era Uma Vez no Oeste” foi reavaliado ao longo dos anos e hoje é considerado um clássico do cinema mundial. O filme figura em diversas listas de melhores filmes de todos os tempos e é estudado em cursos de cinema por sua narrativa inovadora e estética distinta.
A obra de Leone também contribuiu para a popularização do “spaghetti western” nos Estados Unidos, abrindo caminho para outros cineastas italianos e europeus no mercado americano. Além disso, ajudou a redefinir o gênero faroeste, introduzindo temas mais sombrios e complexos, e personagens moralmente ambíguos.
“Era Uma Vez no Oeste” permanece como uma obra-prima incontestável do cinema de faroeste, combinando narrativa envolvente, personagens complexos e uma trilha sonora inesquecível. Seu impacto na cultura americana é inegável, influenciando não apenas o cinema, mas também a percepção do Velho Oeste e dos mitos fundadores dos Estados Unidos. Mais de cinco décadas após seu lançamento, o filme continua a cativar novas gerações de espectadores, solidificando seu lugar na história do cinema.
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