Arquitetura francesa inspirou construção de Goiânia; entenda

A arquitetura de Goiânia reflete uma combinação única de influências francesas e inglesas, particularmente no que diz respeito ao urbanismo e ao planejamento da cidade. O urbanismo francês foi uma fonte de inspiração significativa para o planejamento de Goiânia, especialmente no que se refere a questões como higienismo, estrutura viária, saneamento básico e embelezamento urbano. Essa influência é evidente na adoção do estilo Art Déco na arquitetura da cidade, representando o progresso e a modernidade da época.

Goiânia foi planejada e construída na década de 1930, sob a liderança do urbanista Attilio Corrêa Lima. Lima, formado pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, foi fortemente influenciado pelos princípios da Escola de Belas Artes de Paris. Essa escola, referência mundial na época, defendia um estilo neoclássico, que Lima adaptou para o contexto brasileiro.

Entre os exemplos notáveis de construções Art Déco em Goiânia, destacam-se:

  • Coreto da Praça Cívica: Inaugurado em 1942, palco de manifestações artísticas, culturais e políticas.
  • Palácio das Esmeraldas: Sede do governo estadual, projetado por Atílio Corrêa Lima, inaugurado em 1937, caracterizado por sua cor esmeralda.
  • Edifício da antiga Chefatura de Polícia, atual Procuradoria Geral do Estado: Inaugurado em 1937, exemplo da adaptação do estilo Art Déco para fins institucionais.
  • Centro Cultural Marieta Telles Machado: Antiga Secretaria Geral do Estado, inaugurado em 1936, é um espaço cultural importante.
  • Tribunal Regional Eleitoral: Localizado na Praça Cívica, reflete a estética Art Déco em um contexto jurídico.
  • Museu Zoroastro Artiaga: Fundado em 1946, primeiro museu da cidade, localizado na Praça Cívica.
  • Teatro Goiânia: Inaugurado em 1942, projetado por Jorge Félix, é um importante espaço cultural.
  • Colégio Estadual Lyceu de Goiânia: Mais antigo colégio da cidade, incorporando o estilo Art Déco em sua estrutura educacional.
  • Grande Hotel: Inaugurado em 1937, foi um dos pioneiros a receber o estilo Art Déco na cidade.
  • Museu Pedro Ludovico: Construído entre 1934 e 1937, representa um marco da modernidade em contraste com o passado colonial..

Esses edifícios não apenas exemplificam o estilo Art Déco, mas também são integrantes fundamentais da identidade cultural e histórica de Goiânia. Suas características incluem o uso de formas geométricas, linhas retas e circulares estilizadas, e um design abstrato, frequentemente explorando temas de animais e mulheres. O Art Déco reflete a elegância, o luxo e a modernidade que Attilio Corrêa Lima buscava para a nova capital goiana, contrastando com o estilo colonial anterior​.

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Arquitetura Art Déco é uma das marcas de Goiânia

A arquitetura Art Déco floresceu no início do século 20 e deixou uma impressão duradoura em Goiânia, que foi planejada e construída em meados do século. Os elementos distintivos desse estilo arquitetônico, como linhas geométricas, detalhes decorativos e uma abordagem moderna, podem ser vistos em edifícios públicos, residências e marcos urbanos por toda a cidade.

O projeto da nova capital era marcado pela modernidade e sofisticação, deixando para trás o antigo estilo colonial, presente nas cidades que nasceram com a mineração. Assim, Attilio Corrêa Lima encontrou no estilo Art Déco, uma alternativa para expressar o progresso que a nova capital representava para o estado

A maioria das primeiras construções da cidade, erguidos entre 1940 e 1950, fazem parte do conjunto urbano de Goiânia, tombado como Patrimônio Histórico e Cultural (2003), mas hoje se encontram abandonados e pichados e se concentram no Setor Central. Confira abaixo alguns lugares que se adequam a essa arquitetura surpreendente.

 

Grande Hotel 

Créditos: Poder Goiás

Inaugurado em 1937, o Grande Hotel recebia importantes hóspedes em suas visitas à capital. Atualmente, o prédio recebe eventos de cunho cultural, apesar do precário estado de conservação. 

 

Endereço: Av. Goiás, 462 – St. Central, Goiânia – GO, 74063-010

 

Palácio das Esmeraldas

Créditos: Correio Braziliense

Sua composição Art Déco tem predominância de linhas retas e caráter sóbrio, pendendo para a simplificação. Na visão do arquiteto Atílio Corrêa Lima, a sede do executivo goiano deveria representar a racionalidade e economia, traduzidas em uma construção sólida e que atendesse às exigências da vida moderna.

 

Endereço: Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira – St. Central, Goiânia – GO, 74083-010

 

Teatro Goiânia 

Créditos: Curta Mais

Conhecido como o mais nobre e tradicional espaço cultural da cidade, o Teatro Goiânia foi inaugurado em 14 de junho de 1942 e integra o conjunto arquitetônico do início da capital. A mais luxuosa casa de espetáculos da nova capital recebeu a cerimônia do Batismo Cultural da Cidade, que contou com discursos, entrega da chave da cidade ao primeiro prefeito, Venerando de Freitas, e a presença de autoridades e intelectuais para extensa programação cultural.

 

Endereço:  R. 23, 252 – St. Central, Goiânia – GO, 74015-120

 

Centro Cultural Marieta Telles Machado

Créditos: Via Liberdade

Construído em 1933 em estilo art déco, o prédio serviu primeiro à Secretaria Geral do Estado. Anos depois abrigou o Fórum e mais tarde, foi sede da Secretaria da Fazenda. No local, funcionou o escritório técnico das obras da construção de Goiânia, em 1936. Hoje é o Centro Cultural Marietta Telles Machado, onde funcionam algumas unidades e setores da Secretaria de Estado da Cultura.

 

Endereço: Praça Cívica, nº 2, Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira – St. Central, Goiânia – GO, 74003-010

 

Museu Zoroastro Artiaga 

Créditos: Museu Zoroastro Artiaga

Considerado o primeiro do Estado de Goiás e de Goiânia, o espaço desempenha um papel fundamental na preservação e promoção da memória e cultura da região. O edifício foi projetado, no início dos anos de 1940, e destaca-se pela arquitetura em estilo art déco. Sendo considerado um dos mais belos da cidade, um edifício bastante épico. 

 

Endereço: Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, 13 – St. Central, Goiânia – GO, 74083-010

 

Antiga Estação Ferroviária de Goiânia 

Créditos: Curta Mais 

A construção foi erigida no Estilo Art-Déco, sendo uma das principais construções históricas do município de Goiânia. O edifício possui em sua área interna (saguão principal), dois importantes murais produzidos pelo artista italiano Frei Nazareno Confaloni – introdutor do modernismo em Goiás, ambos pintados no ano de 1953. Esses murais se destacam por serem afrescos, pintados em areia – uma técnica até então inovadora e primaz em nosso Estado.

 

Endereço: Av. Goiás, 1799 – St. Central, Goiânia – GO, 74063-010

 

Coreto da Praça Cívica 

Créditos: A Redação

O monumento se destaca pela riqueza dos detalhes e do acabamento, com composição simétrica, laje plana e elementos que também remetem ao ecletismo arquitetônico. O espaço é considerado um dos exemplares mais elaborados do patrimônio art déco goianiense, uma obra-prima pelo conjunto dos elementos que o compõem.

 

Endereço: St. Central, Goiânia – GO, 74015-095

 

Centro de Ensino em Período Integral Lyceu de Goiânia

Créditos: A Redação

Fundado em 1846, na cidade de Goiás, pelo presidente da província, Barão de Ramalho, o Lyceu de Goiânia é um dos primeiros colégios secundários do Brasil. Com a mudança da capital, a unidade foi transferida para a nova cidade, em 1937, por Pedro Ludovico Teixeira, pois seria muito oneroso manter dois colégios. O estilo é uma mesclagem entre o colonial e o art déco, com fachada reta, pórtico na entrada principal, pilares e os marcantes portões de ferro.

 

Endereço: R. 21, 10 – St. Central, Goiânia – GO, 74030-070

 

Instituto Federal de Goiás (IFG)

Créditos: Instituto Federal de Goiás

Nas construções art déco do edifício predominam nas fachadas as linhas retas e a limpeza visual. O pórtico de entrada do edifício é um elemento interessante. Os traços dele fazem referências aos elementos aerodinâmicos. Outra característica arquitetônica também marcante do edifício do IFG são as janelas redondas em formas de escotilhas pouco usadas em outros prédios construídos na capital no mesmo período.

 

Endereço: R. 75, 46 – Centro Centro, Goiânia – GO, 74055-110

 

Goiânia Palace Hotel

Créditos: TripAdvisor

Os traços em Art Déco, que marcam diferentes construções no centro histórico, também alcançam e deslizam a entrada do hotel, que ainda hoje recebe pessoas de diferentes lugares.

 

Endereço: Av. Anhanguera, 5195 – St. Central, Goiânia – GO, 74043-011

 

Créditos da imagem de capa: TripAdvisor

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Relembre a história de Attilio Corrêa Lima, criador do plano urbanístico de Goiânia

Attilio Corrêa Lima foi engenheiro-arquiteto, urbanista e paisagista brasileiro e seu projeto mais conhecido foi o plano urbanístico de Goiânia.

Attilio graduou-se como engenheiro-arquiteto na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), no Rio de Janeiro, em 1925 . Foi professor de planejamento urbano nessa mesma escola, a convite de Lúcio Costa, após graduar-se urbanista em Paris no ano de 1930 pela Sorbonne no Instituto de Urbanismo da Universidade de Paris (IUUP), sendo o primeiro urbanista formado do Brasil.

Como dito, o trabalho mais conhecido de Corrêa Lima foi, sem dúvida, o plano urbanístico de Goiânia. A cidade teve origem no Plano Diretor elaborado pelo arquiteto, que em 1932, a convite de Pedro Ludovico, se inspirou, em concepções avançadas para criar uma cidade moderna e planejada. Localizada no Centro-Oeste brasileiro, funcionou como uma espécie de ponta de lança da interiorização do Brasil, precursora da mudança da capital brasileira para o Planalto Central.

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Foto: reprodução/UNC

Além de urbanista, Attilio Corrêa Lima foi também paisagista. Neste campo, foi destaque por ter sido um dos pioneiros da integração de plantas tropicais e sub-tropicais em jardins públicos e privados. São projetos de sua autoria nesta área: Jardim da casa da família Matarazzo em São Paulo, jardim da família Marinho e parte do jardim da Granja Comary em Teresópolis, estado do Rio de Janeiro.

Outro dos seus principais projetos, foi o da estação de hidroaviões do Aeroporto Santos Dumont (1937), atualmente sede do INCAER, com dois andares conectados por uma escada espiral, e que traz consigo todos os cinco pontos da nova arquitetura, preconizados por Le Corbusier, sendo este um dos primeiros edifícios modernistas.

Attilio, em suas obras, buscou integrar arquitetura e planejamento urbano, baseando-se em estudos sobre a origem e o desenvolvimento das cidades brasileiras. Infelizmente, teve sua carreira drasticamente interrompida ao falecer com 42 anos em um acidente de avião no Aeroporto Santos Dummont do Rio de Janeiro vindo de São Paulo, em 27 de agosto de 1943, após uma desastrosa tentativa de pouso por parte do piloto, deixando esposa e um filho. O acidente com o avião Junkers JU 52 da VASP prefixo PP-PSD vitimou também o jornalista Cásper Líbero e o arcebispo de São Paulo Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva.

 

Plano Urbanístico de Goiânia

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Foto: reprodução/UNC

Quando Attilio aceitou o convite de Pedro Ludovico para elaborar os projetos e supervisionar as obras de implantação da nova capital do Estado de Goiás, o contrato previa a organização do traçado da cidade, projetos de infraestrutura, plano diretor, projetos arquitetônicos dos principais edifícios públicos e casas para funcionários, além da estruturação administrativa.

Após a execução de relatórios e da escolha do sítio, Attilio C. Lima não questionou a região escolhida pela comissão técnica, que foi outra, porém discordava do local indicado para implantar a área central da nova capital. O arquiteto projetou o núcleo inicial mais próximo da rodovia (atual Avenida Anhanguera) que então fazia a ligação entre Campinas – cidade que deu apoio à construção de Goiânia – e a cidade de Leopoldo de Bulhões, onde chegava a ferrovia. 

Nos planos de Attilio C. Lima, as vias de circulação projetadas são hierarquizadas seguindo uma lógica numérica, como no plano de Nova York. São previstas ligações da nova capital por via férrea, a Avenida Pedro Ludovico (atual Avenida Goiás) – avenida monumental da cidade – ligando a estação ferroviária, como um portal da cidade, à Praça Cívica.

O urbanista projetou um aeródromo com duas pistas de pouso muito próximo ao centro urbano. Na época era a única ligação de Goiânia com o resto do Brasil. Ainda idealizou uma estação de hidroaviões para o Lago Jaó, onde haveria a represa para geração de energia elétrica para a cidade e importante meio de ligação com outras regiões do país.

Após a entrega do Plano Diretor de 1935 de Goiânia, elaborado por Corrêa Lima, os engenheiros Coimbra Bueno realizaram alterações nos planos originais, de modo que poucos registros da efetiva participação do arquiteto-urbanista ficaram na história.

Planejada para 50 mil habitantes e consolidada como uma capital moderna que, “satisfazendo as exigências do urbanismo, fosse um centro de irradiação em todas as esferas da evolução econômico social” (Decreto nº 2337, de 20/12/1932, primeiro ato oficial visando a criação de Goiânia), a cidade, pouco antes de completar três décadas desde sua formação, já abrigava o triplo desta população. Fazendo com que o plano criado por Attilio nunca fosse totalmente implantado.

 

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*com informações de Universidade do Contestado e Universidade Federal de Goiás

Foto de capa: Reprodução/Jornal Opção