Flor jamais vista desabrocha em uma das árvores mais raras do mundo
Até onde os cientistas de plantas do Jardim Botânico do Missouri em St. Louis, nos EUA, sabem, a minúscula flor roxa e branca que cresceu recentemente em sua estufa nunca foi vista antes, pelo menos não por especialistas como eles.
Pois bem, Justin Lee, horticultor sênior do jardim, estava verificando um grupo de mudas de árvores Karomia gigas na estufa quando avistou a flor. A árvore, parente da hortelã e originária da África, é uma das espécies de árvores mais ameaçadas de extinção do mundo.
A flor, de 2,5 centímetros de comprimento, possuía um halo de pétalas de cor roxo claro que se inclinam para baixo enquanto um grupo de quatro estames brancos com pólen despontavam.
Para quem não sabe, a família Lamiaceae, à qual pertence a hortelã, na maioria das vezes produz flores em forma de tubo. Os responsáveis pela árvore acreditam que as flores provavelmente atraiam abelhas, borboletas e mariposas polinizadoras.
Nas próximas semanas, espera-se que mais flores de Karomia gigas cresçam na estufa onde, ao invés de atrair insetos, vão atrair as pessoas que estão trabalhando para impedir a extinção dessa espécie. Ao conseguir que múltiplas flores cresçam, as árvores podem passar por polinização cruzada e ter uma chance maior de sobrevivência.
Para se ter uma ideia, na selva da Tanzânia, são conhecidas apenas cerca de 24 árvores dessa espécie. Roy Gereau, diretor do programa da Tanzânia no Jardim Botânico do Missouri, não se surpreendeu com o fato de a flor nunca ter sido vista.
A Karomia gigas é uma árvore alta e reta que pode atingir 24 metros, cujos galhos só aparecem a partir de 10 a 12 metros do solo, tornando as flores difíceis de avistar.
A árvore é tão rara que não tem nenhum apelido conhecido em inglês, suaíli ou nos idiomas locais em torno das reservas florestais onde é encontrada. Das mais de 60 mil espécies de árvores conhecidas, a Karomia gigas está entre as mais próximas da extinção e é uma das mais ameaçadas da África.
E agora que a árvore produziu uma flor, os responsáveis por sua conservação estão confiantes de que podem impedir que ela desapareça. Na natureza, ela é altamente suscetível a um fungo que pode ser transmitido por insetos.
“Ter plantas com flores é um ótimo ponto de partida nos esforços para recuperação da espécie”, afirma Emily Beech, especialista em árvores ameaçadas de extinção da Conservação Internacional de Jardins Botânicos. Embora não tenha participado da propagação das árvores de St. Louis, em 2016 Beech se juntou a Gereau e outros do Serviço Florestal da Tanzânia em uma expedição para procurar as árvores.
“Quanto à sobrevivência, temos está aqui”, declara Wyatt, referindo-se à espécie Karomia gigas. “Podemos realmente garantir que não seja extinta. A ideia de preservar a espécie é completamente possível. Ela é protegida na Tanzânia. Temos coleções no jardim botânico. Assim que tivermos sementes suficientes, esperamos poder armazená-las [em um freezer] e criar uma reserva para as perdas”.
Gereau diz que está relutante em repatriar as árvores, preocupado que elas sejam muito frágeis para fazer a viagem entre os continentes, mas afirma que o grupo irá compartilhar seus conhecimentos com o governo da Tanzânia e botânicos da Universidade de Dar es Salaam, onde pesquisas sobre a árvore são conduzidas.
Por enquanto, a única flor é um sinal de esperança do que está por vir. Para surpresa da equipe do jardim botânico, a flor em St. Louis surgiu e se foi rapidamente, caindo da árvore em menos de 24 horas.
Créditos: National Geografhic