Goiânia recebe Mostra de Cinema Indígena com entrada gratuita
De 17 a 19 de abril acontece a 2ª edição da Manifesto – Mostra Dom Tomás Balduíno de Cinema Indígena, no Centro Cultural da UFG. O evento integra a programação oficial da Semana dos Povos Indígenas, promovida pela PUC/GO, e tem apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. A realização é da Vietnam Filmes, Balaio Produções e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno.
Segundo seus idealizadores, Claudia Nunes e Erico Rassi, a edição especial da Mostra foi criada para comemorar o Centenário de Dom Tomás Balduíno, um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e defensor histórico de direitos humanos na América Latina. O objetivo é valorizar o seu legado e dar visibilidade para a produção cinematográfica de realizadores e realizadoras indígenas sobre suas lutas e resistência histórica.
A sessão de abertura da Mostra, no dia 17/4, às 19 horas, com o tema IMAGEM e MEMÓRIA, dá o tom do evento, exibindo os documentários “Yaõkwa – Imagem e Memória” e “Avá Canoeiro – A Teia do Povo Invisível”.
O primeiro, com direção de Vincent Carelli e Rita Carelli (Pernambuco/2020), apresenta o reencontro do povo Enawenê Nawê, com o ritual Yaõkwa, filmado ao longo de 15 anos pelo projeto Vídeo nas Aldeias. O documentário registra as reações deste povo no reencontro com parentes falecidos, costumes esquecidos e preciosos cantos rituais em uma emocionante exibição na aldeia.
O segundo, com direção de Mara Moreira (Goiás), foi realizado entre 2005 e 2006, e traz cenas raras do Povo Avá Canoeiro, de Goiás, vítima de um dos massacres mais cruéis contra povos indígenas brasileiros, restando apenas alguns sobreviventes.
A sessão é seguida de uma roda de conversa, com o tema GOIÁS – TERRITÓRIOS INVISÍVEIS E APAGAMENTO HISTÓRICO, e contará com a participação de Kamutadja Avá Canoeiro, liderança indígena do povo Avá, da antropóloga Rosani Moreira Leitão e da missionária do CIMI, Sara Sanchez. Nessa noite, também será feita uma homenagem mística a Dom Tomás Balduíno.
Garantia dos direitos dos povos indígenas em Goiás
Claudia Nunes, jornalista, roteirista e diretora de cinema, idealizadora e coordenadora da Mostra Manifesto, comenta sobre o evento, que teve sua primeira edição no ano de 2017:
“Há 8 anos a Vietnam Filmes e a Balaio Produções produziam a Manifesto – Mostra de Cinema Político, com o propósito de abrir espaço para outras cinematografias e olhares sobre os muitos mundos do nosso mundo. O primeiro encontro reuniu obras cinematográficas de Brasil e Cuba, e na ocasião oportunizou intercâmbios, formação, coprodução e difusão das obras audiovisuais entre os dois países. Em 2024 nós voltamos nossas telas para questões muito próprias do território brasileiro, numa discussão atual e urgente, já que estamos vendo terras indígenas serem invadidas e direitos sendo retirados, enquanto genocídios seguem sendo cometidos em muitas partes do mundo. O nosso propósito é ampliar as vozes de resistência.”
Claudia ainda explica que nesta edição, o objetivo é promover o encontro de lideranças indígenas, defensores de direitos humanos, pesquisadores, antropólogos, gestores, estudantes de cinema, indigenistas, cineastas, procuradores federais e defensores públicos, para discutir e criar parcerias que promovam a proteção e garantia dos direitos dos povos indígenas goianos.
Filmes e debates que contrapõem a hegemonia “branca” no cinema brasileiro
A Mostra Manifesto, com um forte olhar político e decolonial, percorre os municípios goianos de Goiânia, Catalão, Quirinópolis e Corumbá de Goiás, além da cidade de Uberlândia/MG. A programação é composta por um conjunto de obras expressivas do pensamento e cosmovisão de artistas indígenas do audiovisual, garantindo um contraponto à hegemonia branca no cinema brasileiro.
Em Goiânia, as exibições acontecem de 17 a 19 de abril, em seis sessões (tarde e noite), no Centro Cultural da UFG (Praça Universitária), e nas cidades do interior em sessões únicas.
Além dos filmes, serão realizadas rodas de conversa após as sessões para abordar diferentes temas: Goiás – territórios invisíveis e apagamento histórico; Vozes de vanguarda, memória e descontinuidade; Sem ancestralidade não há futuro; Encantamentos do mundo; Herança colonial, capitalismo e direitos humanos.
19 de Abril é celebrado o Dia dos Povos Indígenas
O Dia dos Povos Indígenas é uma data comemorativa celebrada no Brasil no dia 19 de abril e tem como propósito celebrar a diversidade das histórias e das culturas dos povos indígenas brasileiros; combater preconceitos contra os indígenas; e estabelecer políticas públicas que garantam os direitos dos povos originários.
Essa data comemorativa foi criada, em 1943, durante a ditadura do Estado Novo. Seu surgimento se deu, em boa medida, pela pressão de Marechal Rondon, importante indigenista brasileiro. Ainda, a data foi criada por influência do Congresso Indigenista Interamericano que havia sido realizado no México em abril de 1940.