Nas profundezas das profundezas do oceano, um crustáceo parecido com o camarão foi descoberto na zona hadal, lugar com mais de 6 mil metros de profundidade, mais precisamente na Fossa do Atacama, ou Fossa Peru-Chile, no Oceano Pacífico. O Eurythenes atacamensis é um anfípode, ordem de animais compostos por cabeça e tronco segmentados.
Por mais que o bichinho só tenha 8 centímetros de comprimento, ele é um gigante, pois ele tem o dobro do tamanho do parente mais próximo. Esses animais foram encontrados na fossa em profundidades entre 4.974 e 8.081 metros e é uma das espécies mais abundantes do lugar.
O ambiente é extremamente escuro, com a temperatura da água variando entre 1ºC e 4ºC nos pontos mais profundos. A pressão hidrostática do lugar varia de 600 a 1.100 atmosferas.
Mas, uma das mais destacadas características desses crustáceos é que eles são necrófagos. Ou seja, eles se alimentam de restos de outros animais mortos e também de material vegetal em estado de decomposição. O popular “carniceiro”.
Por serem necrófagos, os Eurythenes atacamensis desempenham um papel importante na cadeia alimentar. Os crustáceos interceptam e redistribuem o alimento que afunda de cima. Para encontrá-los, os pesquisadores usaram uma isca de cavala como armadilha. Infelizmente, os bichinhos também são vítimas de microplásticos que podem ingerir acidentalmente.
“Esse ambiente é totalmente normal para os organismos que nele vivem. Os habitantes da zona hadal têm um conjunto de adaptações bioquímicas, morfológicas e comportamentais que lhes permitem prosperar nas trincheiras”, escreveu Johanna Weston, candidata ao PhD de ciência marinha da Escola de Ciências Naturais e Ambientais da Universidade de Newcastle, no site The Conversation.
Segundo a pesquisadora, os Eurythenes atacamensis foram vistos pela primeira vez em 2018, quando duas expedições internacionais de pesquisa focaram na porção sul da Fossa do Atacama. Submersíveis não tripulados com equipamentos de imagem em alto mar e armadilhas coletaram filmagem e milhares de anfípodes. Veja:
Mas só agora conseguiram categorizar os organismos, fazer uma avaliação visual detalhada e genética, por fim definir o E. atacamensis em uma nova espécie.
Essa descoberta é outra peça no quebra-cabeça de compreender o mundo em que vivemos e as interações sutis entre os organismos e seu ambiente. Isso nos ajuda a entender como a vida prospera nas partes mais profundas do oceano, em condições que parecem impossíveis para mamíferos terrestres como nós.
Também nos dá uma noção da zona de hadal, um habitat extremo sem vida, mas repleto de biodiversidade extraordinária.