Mais de 200 espécies de plantas mudarão de nome por serem considerados racistas

Pela primeira vez na história, cientistas votaram para remover termos racistas dos nomes científicos de plantas. No último sábado (20), após seis dias de sessões no Congresso Botânico Internacional, em Madri, botânicos decidiram que mais de 200 plantas, fungos e algas terão seus nomes científicos alterados.

A medida, proposta pelo taxonomista Gideon Smith, recebeu 351 votos a favor e 205 contra. Smith e seus colegas vêm tentando há anos aprovar mudanças no sistema internacional de classificação científica de espécies de plantas e animais, com o objetivo de eliminar nomes científicos com conotações racistas.

A partir de agora, espécies de plantas que utilizam termos ofensivos, como “caffra” – utilizado na África do Sul de forma pejorativa para se referir aos negros – serão renomeadas com o termo “affra”. Por exemplo, a árvore Erythrina caffra passará a se chamar Erythrina affra, destacando a origem africana das espécies.

Além das mudanças nos nomes existentes, os cientistas concordaram em criar um comitê especial para avaliar os nomes científicos de novas espécies de plantas. Este comitê terá a função de identificar e alterar termos potencialmente racistas ou ofensivos nas descrições das espécies descobertas a partir de 2026.

No entanto, durante o congresso, os botânicos não chegaram a um consenso sobre a adoção de uma abordagem mais ampla para eliminar nomes científicos historicamente racistas de plantas ou animais, como o besouro Anophthalmus hitleri, nomeado em homenagem a Adolf Hitler.

A Comissão Internacional de Nomenclatura Zoológica argumenta que a alteração de nomes científicos pode ser disruptiva e que termos substitutos podem eventualmente se tornar ofensivos conforme os costumes e atitudes mudam.

 

 

 

 

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Seu Jorge se pronuncia sobre ataques racistas que sofreu durante show

O cantor Seu Jorge utilizou as redes sociais, na noite desta segunda-feira, 17, para comentar os ataques racistas que sofreu durante uma apresentação no clube Grêmio Náutico União, em Porto Alegre (RS), na última sexta-feira, 14. Em vídeo intitulado ‘Meu Rio Grande do Sul’ e com a bandeira do estado ao fundo, o artista relatou como tudo aconteceu, destacou o desencanto com a capital “que aprendeu a amar” e conclamou todos a uma luta antirracista. A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar o caso.

“A verdade é que eu estava bastante empolgado porque já fazia um certo tempo que não me apresentava em Porto Alegre com a minha banda”, disse o cantor no vídeo. Seu Jorge foi contratado para realizar um show no jantar de comemoração à reinauguração de um salão do Grêmio Náutico União. As injúrias raciais foram proferidas enquanto ele e a banda se preparavam para o “bis”.

Ele relatou que, após ouvir as vaias e xingamentos ao final do show, retornou ao palco sozinho, agradeceu a presença de todos e se despediu. “Não reconheci a cidade que aprendi a amar e respeitar. Não era a cidade que eu conhecia, dos inúmeros shows com as bandas amigas. Na verdade, o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista”, detalhou.

As denúncias vieram à tona no fim de semana, pelas redes sociais, após internautas que estavam presentes no evento afirmarem que parte do público teria gritado ofensas depois de o músico convidar um jovem negro para tocar no palco e fazer um breve discurso contra a redução da maioridade penal e em defesa de jovens negros de comunidades brasileiras. Em um dos relatos, uma pessoa diz que foram feitos sons de macaco e que alguém teria gritado palavras como “vagabundo” e “safado”. No vídeo, o cantor ainda comentou que os únicos negros que visualizou no evento se tratavam de funcionários, os quais estariam impedidos de interagir com o cantor.

Seu Jorge também aproveitou o pronunciamento para agradecer o apoio que recebeu. “Quero aqui agradecer imensamente o carinho e suporte que recebi de toda a gente de Porto Alegre que se sensibilizou com o que aconteceu e me mandou mensagens de apoio a mim e de repúdio ao comportamento de alguns no clube”, comentou. E acrescentou que a conexão dele com os gaúchos não será rompida. “Agora estaremos bem mais fortes e unidos cada vez mais na luta intensa contra o racismo e toda forma de preconceito e toda forma de discriminação”, garantiu.

O artista relembrou a luta antirracista e conclamou todos a se unirem a ele nesse combate. “Nunca, jamais, curvaremos ao racismo e à intolerância, seja ela qual for. Não cederemos um milímetro sequer ao ódio e combateremos e cobraremos das autoridades que a justiça prevaleça e os criminosos sejam devidamente punidos. A lei é pra ser cumprida. E assim conclamo a grande nação afro-brasileira a se integrar aos movimentos sociais brasileiros que existem mais próximos da sua cidade”, disse Seu Jorge.

Após a repercussão do caso, o Grêmio Náutico União publicou uma nota oficial, afirmando que está “apurando internamente os fatos” e que, se comprovado o crime, os “envolvidos serão responsabilizados”. “Ressaltamos que Seu Jorge foi o artista escolhido considerando sua representatividade na cultura nacional e pelo reconhecimento internacional, e destacamos nosso respeito ao profissional e a seu trabalho”, dizia a nota assinada pelo presidente do clube, Paulo José Kolberg Bing.

Confira o vídeo abaixo:

 

*Agência Estado

(Foto: REUTERS/Hannibal Hanschke)