Se você não é muito antenado no universo dos quadrinhos talvez não entenda porque tanto burburinho e tanta especulação em torno de Sandman, a nova série de grande sucesso da Netflix. É preciso saber que a adaptação de ‘Sandman’ é esperada desde meados dos anos 1990. Inicialmente cogitava-se uma obra cinematográfica, mas não deu certo. Apenas com a chegada dos streamings que voltou-se novamente a cogitar uma adaptação.
E, por incrível que parece, a série tão esperada é sucesso absoluto tanto de público quanto de crítica. Coisa muito rara de acontecer nos últimos tempos, principalmente com as produções assinadas pela Netflix. O Google aponta que 93% das pessoas que assistiram, avaliaram que gostaram da série, criada por Allan Heinberg baseado na série de histórias em quadrinhos de mesmo nome de Neil Gaiman e publicada pela DC Comics.
Mesmo com empecilhos causados por acordos de direitos autorais, que tornaram impossíveis o uso de John Constantine e da Liga da Justiça, a Netflix, em parceria com DC Entertainment, Warner Bros, conseguiram apresentar os personagens em uma produção muito elogiada que mostra os dois primeiros tempos da saga: ‘Prelúdios e Noturnos’ e ‘A Casa de Bonecas’, que abarcam as 16 primeiras edições dos quadrinhos que foram publicadas entre janeiro de 1989 e junho de 1990.
A série, que já é vista como aclamação universal, começa no início do século XX, quando a Ordem dos Antigos Mistérios, um grupo de ocultistas, decide capturar a Morte. Mas o ritual não dá certo e eles acabam aprisionando ‘Sonho’, uma entidade responsável por cuidar do mundo dos sonhos. A partir daí, a história passa a acompanhar ‘Morfeu’, o Lorde dos Sonhos, em sua luta para se libertar e recuperar objetos roubados por seus carrascos. A história apresenta um universo paralelo que é povoado por criaturas mágicas, demônios, corvos falantes e encarnações de conceitos como Morte, Sonho, Desejo e Desespero – entidades chamadas Perpétuos.
Desde o início da série, é possível sentir o quanto a produção se preocupa em manter a veracidade e a proximidade com o quadrinho. O espectador sente o quanto a produção se esforçou para recriar a magia da publicação dos quadrinhos em todos os aspectos, desde a vida das personagens, criaturas até os diálogos palavra por palavra. E aí está um dos fatores que fizeram com que a série fosse um grande sucesso: a preservação da essência dos quadrinhos que a mais de 30 anos é sucesso com o público.
No elenco principal, destacam-se o Sonho de Tom Sturridge, o Coríntio de Boyd Holbrook, a Lucienne de Vivienne Acheampong e a Rose Walker de Vanesu Samunyai. Pilares dessa narrativa, o quarteto brilha ao usar bem o espaço disponível, mesmo com papéis tão diferentes. Os dois primeiros são encarnações de conceitos abstratos, a terceira uma espécie de “voz da razão” no meio de todo esse caos e a última uma humana, combinação que aproveita o melhor da natureza de cada um para sempre trazer novos desdobramentos à trama.
O mesmo pode ser dito de atores com menos tempo de tela. Seja em alívios cômicos como Matthew e Merv (dublados por Patton Oswalt e Mark Hamill), ou até mesmo Perpétuos que surgem como participações especiais. É o caso da encantadora e vibrante Morte de Kirby Howell-Baptiste, ou de Mason Alexander-Park como Desejo, que se faz tão fascinante quanto misteriosa.
A interpretação e a dedicação do elenco também se destaca e encanta o público. Gwendoline Christie (Lúcifer), David Thewlis (John Dee), Stephen Fry (Gilbert), Joely Richardson (Ethel Cripps) e especialmente Charles Dance (Roderick Burgess) entregam performances que demonstram toda a riqueza universo de Sandman.
É uma série que merece ser assistida com toda a atenção e concentração possível. Veja o trailer: