A Praça do Trabalhador em Goiânia tem uma história rica e complexa, marcada por eventos políticos e culturais significativos. O local é um dos principais pontos de referência do centro da capital de Goiás. De acordo com estudiosos, no projeto inicial da cidade, a Avenida Goiás ligava a Praça Cívica à Praça do Trabalhador, onde se encontra o edifício da Antiga Estação Ferroviária.
Quando inaugurada, a Praça do Trabalhador se chamava Praça Americano do Brasil, em homenagem ao escritor e médico que fez parte da história de Goiás. O importante local histórico abrigou, por muitos anos, prédios da administração municipal, como secretarias e a sede da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), companhia responsável pela administração da linha férrea que passava por Goiânia.
Historiadores goianos dizem que quando a praça foi inaugurada, a região onde ela foi instalada não fazia parte do Centro. Para os parâmetros da época, o espaço ficava na periferia, depois do Bairro Popular. Foi apenas após os anos 2000 que o Bairro Popular foi oficialmente anexado ao Centro, conta a história de Goiânia.
A história da capital, conta ainda que, até o final de 1950, a praça era apenas um espaço amplo, em frente à Antiga Estação Ferroviária. Foi em 1959, com a instalação do Monumento ao Trabalhador que a praça foi refeita, com novos traços de urbanização e paisagismo.
E foi com essa mudança estrutural e estética que o significado do espaço mudou. A Praça passou a ser utilizada por sindicatos que passaram a realizar reuniões, assembleias e manifestações, principalmente nos dias 1º de Maio, no local.
A Praça também se tornou o ponto final das linhas de ônibus da cidade e abrigava a Estação Ferroviária. Por conta destes fatores o fluxo da circulação de trabalhadores no local era bem alto. Com o tempo, as pessoas da cidade passaram a chamar o local de Praça do Trabalhador, por conta do grande fluxo de trabalhadores no local. A mudança oficial aconteceu em 1990.
Painéis de Clóvis Graciano que compunham o Monumento ao Trabalhador (Foto: Reprodução/Relatório “Monumento ao Trabalhador – estudos para a reconstrução”) Reprodução A redação
Em 1959, a Praça recebeu o Monumento do Trabalhador. Ele foi construído em durante o governo de José Feliciano Ferreira e do prefeito Jaime Câmara, em resposta às reivindicações de vários sindicatos trabalhistas que desejavam que Goiânia possuísse algum monumento que homenageasse os trabalhadores de um modo geral. O objetivo evidenciou a importância da luta da classe e de seu trabalho produtivo através dos tempos.
A construção do monumento contou com a participação do engenheiro Farid Helou, que cuidou do traçado urbanístico do local; Elder Rocha Lima, arquiteto que projetou os cavaletes de concreto para sustentar os painéis; e o renomado artista plástico Clóvis Graciano, vencedor do concurso que escolheu as obras de arte a serem expostas no local.
Monumento ao Trabalhador foi demolido pela ditadura militar por ser considerado subversivo | Foto: Reprodução
Com a instalação do monumento, o local passou a ser um dos pontos turísticos, juntamente com a Praça Cívica e o Lago das Rosas, inclusive sendo retratado em diversos cartões postais. O monumento era formado por dois cavaletes, cada um composto por oito colunas de sete metros de altura que emergiam de dois espelhos d’água. Em cada cavalete foi instalado um painel em semicírculo, de 1,5 metro de altura por 12 metros de comprimento, sendo um de frente para o outro e com cinco metros de distância entre as duas pontas. Nesses painéis estava instalada a obra “Os Trabalhadores”, de Clóvis Graciano, toda feita em pastilhas.
Infelizmente, o monumento teve uma existência efêmera. Em 1969, foi alvo de vandalismo pelo Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que derramou piche fervido nos murais. A ação foi uma reação ao crescente movimento operário e estudantil em Goiânia, que na época reivindicava direitos civis e trabalhistas. O prefeito da época, Íris Rezende, e as gestões subsequentes não tomaram medidas para restaurar o monumento. Eventualmente, em 1986, o monumento foi demolido para desobstruir a extensão da Avenida Goiás.
O local onde se encontrava o monumento se tornou um importante ponto de encontro para protestos estudantis e de trabalhadores. O movimento trabalhista e sindical em Goiânia, influenciado pelo movimento político-social conhecido como “Reforma de Base” na década de 1960, foi caracterizado pela luta por direitos, melhores condições de trabalho e reconhecimento, desempenhando um papel crucial na história social da cidade.
Hoje, a Praça do Trabalhador abriga diversas referências artísticas e culturais, como o painel de azulejos do artista goiano Siron Franco, inaugurado em 1983, que retrata a história e o cotidiano dos trabalhadores. Outra obra importante é o Relógio das Flores, inaugurado em 1979, que se tornou um símbolo da praça. A praça é um espaço vital para lazer e convivência, frequentado por trabalhadores e famílias em busca de entretenimento e diversão.
A história da Praça do Trabalhador reflete não apenas a importância do movimento operário em Goiânia, mas também as mudanças políticas e sociais da cidade ao longo das décadas, destacando-se como um símbolo de luta e resistência.