Meninas Malvadas (2024) é um ‘refresh’ desnecessário para o clássico de 2004, mas ainda bem-vindo
20 anos após o clássico estrelado por Lindsay Lohan, Meninas Malvadas retorna como um musical, para o desespero de alguns
Alguns filmes se tornam tão memoráveis que é quase impossível imaginar um remake ou uma continuação. Isso acontece com o clássico Meninas Malvadas (2004), do diretor Mark Waters, que é a comédia adolescente perfeita para os tempos em que foi lançado.
O longa, estrelado pela jovem (na época, em ascensão) Lindsay Lohan, possui cenas tão marcantes que já se tornaram parte da cultura pop. Afinal, “tão barro” se tornou um adjetivo recorrente dos jovens da casa dos 20 anos e já é natural usar rosa às quartas-feiras, muitas vezes, inconscientemente.
Imaginar uma nova versão de um filme tão presente em nossa memória, com uma trama tão clara e ‘quase perfeita’, é quase como um pesadelo. Alterar uma obra de arte intocável parecia ser um risco, que foi assumido em 2024, 20 anos após o clássico, pelo duo de diretores Samantha Jayne, Arturo Perez Jr.
E que risco! Por se tratar de algo tão visível na memória, já era evidente a dificuldade, mas os riscos aumentam ainda mais quando decidem transformar a obra em um musical — spoiler: é o que fizeram aqui.
As novas Meninas Malvadas
A atriz australiana Angourie Rice teve a difícil missão de assumir a protagonista Cady Heron, originalmente de Lohan. Mas a jovem atriz não ficou devendo muito, apresentando uma versão única da personagem, sem tentar parecer uma cópia. A Cady de Angourie tem seus próprios anseios e medos e não se prende a versão anterior. A nova persona, diferente da versão de 2004, é mais inocente e ingênua, enquanto no filme anterior, Cady aparentava estar mais perdida no ambiente escolar, do que ingênua.
Um ponto a ser destacado é que, em Meninas Malvadas (2004), toda a transição de Cady para se tornar uma ‘Poderosa’ — nome dado ao grupo de patricinhas populares da escola — é mais sutil. Cady aos poucos introduz peças do guarda-roupa novas em seu guarda-roupa e muda sua postura e penteado. O que não acontece aqui, pois ainda que essa ideia seja transmitida, na prática, a Cady ‘nerd’ se torna ‘Poderosa’ em poucas cenas de diferença, tornando tudo mais brusco.
A icônica vilã Regina George, interpretada em 2004 por Rachel McAdams, dessa vez foi encarnada por Reneé Rapp, conhecida por atuar anteriormente em ‘A Vida Sexual das Universitárias’, série da HBO.
A nova versão foi um refresh necessário para a personagem, que anteriormente, ainda que má, possuía todo um tom cômico e escrachado. A Regina George de Rapp, ainda que cômica, é feroz, má e tem um olhar perfurante. Uma versão muito mais ameaçadora da personagem, o que foi impulsionado pelo fator ‘musical’ do longa, com uma música tema que passa toda a imponência da personagem.
Regina George neste longa é tão boa e tem todos os holofotes para si em qualquer cena que apareça. Não por acaso, diferente de 2004, desta vez, a vilã é tão protagonista (ou até mais) quanto Cady. Regina George estampa capas e banners de vários materiais de divulgação do filme, coisa que não aconteceu na versão original, que tinha todo o destaque para a Cady de Lindsay Lohan.
Outro ponto é a excelente escolha da atriz! Diferente de Rachel McAdams, com seus 1,63m de altura, a Regina de Reneé Rapp é alta, com 1,70m de altura e muitos saltos altos. A nova personagem passa um ar muito mais ‘fodona’ — como ela mesmo se intitula em sua canção “Meet the Plastics”. O figurino da personagem também passa essa impressão, a ameaça é ainda maior. Com roupas menos ‘patricinhas’ — ainda que presentes — e muito mais ‘gostosona’, ‘superior’.
Os outros personagens do filme tem pontos positivos e negativos. As outras duas poderosas, Gretchen e Karen, aqui interpretadas por Bebe Wood e Avantika Vandanapu respectivamente, são interessantes, mas nada que melhore a experiência. Bebe Wood apresenta uma versão mais humana da personagem, que ainda cômica, tem medos e anseios. Já a Karen de Avantika Vandanapu, pode ser considerada um ponto negativo do filme. Diferente da interpretação de 2004 de Amanda Seyfried, que era ‘burrinha’ e engraçada, a nova Karen é no sentido mais claro da palavra: lesada. Ela é burra em níveis surpreendentes, tirando toda a imersão da personagem e do filme. Com falas desconexas e irreais, e expressões faciais ainda piores.
A dupla Janis e Damian, em 2004 interpretados por Lizzy Caplan e Daniel Franzese, dessa vez fica por conta de Auli’i Cravalho e Jaquel Spivey, que entregam bons personagens. Que não são melhores ou piores que as versões anteriores, mas cumprem o papel de forma bem feita, sem muitas surpresas.
Meninas Malvadas: o musical
Alguns amam, outros odeiam, mas a novidade é essa: Meninas Malvadas (2024) agora é um Musical. Assim mesmo, com M maiúsculo. Boa parte do filme é incorporada por cenas musicais, com trocas de cenários e coreografias mirabolantes. Goste ou não, a ideia foi sim muito bem-vinda. Como dito anteriormente, seria um desafio e tanto reproduzir um clássico tão memorável de forma fidedigna com o ‘copiar e colar’. A mudança para um musical foi uma forma de se diferenciar e evitar comparações diretas (ainda que este texto seja um longa e incessante comparação).
As músicas são ótimas e muitas vão grudar em sua cabeça, principalmente os monólogos de Regina George, onde a atriz e excelente Reneé Rapp arrasa em vocal, performance e interpretação.
Uma nova roupagem
As comparações são claras e seria difícil falar sobre este filme sem lembrar do anterior. A direção e roteiro conseguiu adaptar bem a história de forma fiel e criativa, dentro do possível.
As mudanças foram bem-vindas, com direito a tudo, desde novos figurinos a adaptações para os tempos atuais. Em 2004, por exemplo, não existia o Instagram e aqui, ele é presente, muuuuito presente.
Meninas Malvadas (2024) conseguiu renovar algo que não precisava ser renovado, pois o longa original ainda era muito atual, mas ainda assim, a nova versão é bem-vinda, principalmente para a nova geração que está acostumada com internet e muitos likes.
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