Avenida Paranaíba em Goiânia abriga casa residencial modernista assinada por arquiteto do Conjunto Nacional em São Paulo

Residência proporcionava um forte contraste entre sua construção modernista e as ruas de Goiânia carentes em pavimentação

Julia Macedo
Por Julia Macedo
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O ano era 1952 e o arquiteto recém-formado, David Libeskind, projetava em Goiânia a residência da família Félix Louza. A construção começaria no ano seguinte. A partir de sua base, a casa já chamava a atenção por ser diferente das casas construídas na região.

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Imagens: Acervo de David Libeskind

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Goiânia foi construída sob o idealismo da arquitetura art déco moderna, mas aquele projeto de Libeskind era um tanto quanto singular. Tomando forma na Rua 82, a casa residencial possui um único andar. A movimentação dos carros no cruzamento das principais vias da cidade se erguia como um problema aos donos da construção.

No entanto, Libeskind eliminou as aberturas tradicionais que se voltavam para a rua. A casa se abraçou, voltada para si mesma. As divisórias seriam revestidas por materiais cerâmicos de primeira linha ou cobogós em tons neutros.

As cerâmicas nas paredes podem transformar um ponto exato em local de destaque. Bem como os cobogós. O uso desses materiais no exterior da construção desenhou, sozinho, a beleza do lugar. A distinção entre eles promoveu a união de símbolos da riqueza em uma fachada plena.

Com a divisão de áreas da casa, os pátios receberam a incrementação de jardins. Por ser uma casa “abraçada por si mesma”, o jardim central da construção foi projetado para funcionar como ponto de integração e circulação.

A criação daquele espaço proporcionou a ventilação e iluminação que os ambientes internos precisavam por estarem tão fechados. Em formato retangular, os espaços foram marcados por seu sentido horizontal. O projeto foi encoberto por uma laje de concreto e telhas de cimento amianto.

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Imagens: Acervo de David Libeskind

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Os proprietários do local não escolheram David Libeskind como arquiteto por obra do acaso. As obras de Libeskind foram publicadas por importantes veículos de comunicação como Ad – Arquitetura e Decoração, Acrópole, Habitat, Casa e Jardim e Brasil Arquitetura Contemporânea. Ali ocorria a divulgação da arquitetura moderna no país.

Muitos leitores se imaginaram, por muito, vivendo em “casas de revistas”. Inspirados pela estética da modernidade, o casal Félix Louza se sente influenciado a escolher o então arquiteto para projetar sua residência. Dona Irene se encontra com Libeskind para guiar a projeção. Entre seus desejos, pontua a preferência por uma casa sem janelas, moderno assim como as casas divulgadas em Belo Horizonte.

Na visão do Senhor José, em Goiânia ainda não tinha arquitetos com conhecimentos capazes de entender seus desejos por um lar em estilo modernista. Para um casal viajante, a nova residência para a família deveria ser semelhante as construções vistas em outras regiões do Brasil.

Antes da casa ser construída no Setor Central, a família morava em uma fazenda, no antigo município de Bonfim, hoje Silvânia. Construir a casa não foi trabalho fácil ou rápido para ninguém. A construção levou cerca de dois anos para ser finalizada. Grande parte dos materiais utilizados chegavam de São Paulo, já que em Goiânia não havia instrumentos necessários para o desenvolvimento da obra em questão.

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Imagem: Naldo Mundim

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG) sobre o morar em arquiteturas singulares utilizou a casa como ponto de estudo. O incrível projeto de David Libeskind era habitação de José Félix Louza e Irene Félix Louza. Juntos, os dois residiram a casa alvo de críticas, sejam elas boas ou ruins.

Em uma antiga Goiânia ainda sem asfalto se erguia a sinuosa construção em estilo moderno. A pesquisa realizada por Isabela Menegazzo Santos de Andrade pela UFG, questiona como foi para os habitantes originais da residência viver em uma casa modernista diante da dura realidade da cidade de Goiânia na década de 1950.

 Imagem de capa: Naldo Mundim 

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