Bebê Rena atrai audiência recorde na Netflix com chocante história real

Novo fenômeno da Netflix é a série mais assistida do momento em todo mundo

Marcelo Albuquerque
Por Redação Curta Mais
Bebê rena Netflix
Bebê Rena é a série mais assistida do momento na Netflix em todo o mundo. (Imagem: Divulgação)

A Netflix surpreendeu novamente com a história intensa e autêntica de Bebê Rena (Baby Reindeer), uma nova minissérie que explora os horrores de uma perseguição obsessiva. Para quem não sabe, essa obra é inspirada em fatos reais e acompanha a jornada de Richard Gadd, um comediante da Escócia que viveu uma experiência aterrorizante com uma stalker.

Para se ter uma ideia do tamanho desse novo fenômeno do serviço de streaming, a audiência de Bebê Rena cresceu mais de 400% na Netflix em uma semana e rapidamente subiu ao topo das mais assistidas nos EUA, Reino Unido e Brasil, acumulando mais de 13 milhões de horas de visualizações em tempo recorde!

Criada e protagonizada pelo humorista escocês Richard Gadd, a obra é inspirada em uma história real e traz uma narrativa intensa sobre perseguição obsessiva e abuso sexual. O que aparentava ser um drama leve misturado com comédia, revela-se uma experiência emocional intensa e perturbadora.

Bebê Rena acompanha a relação conturbada entre o comediante Donny e sua stalker, Martha (Jessica Gunning está brilhante no papel), revelando o impacto deste envolvimento na vida dele, que é obrigado a confrontar um trauma de violência sexual do passado. Vale lembrar que a série é cheia de gatilhos e pode incomodar especialmente vítimas de traumas.

A história de “Bebê Rena” se concentra em Donny Dunn, representado por Gadd, um comediante em busca de fama que se vê envolvido em maus lençóis quando uma mulher chamada Martha, que ele encontrou por acaso em um bar em que trabalhava, começa a persegui-lo sem piedade.

A trama, que poderia ser totalmente imaginária, é, na verdade, um retrato realista dos quatro anos assustadores experimentados pelo próprio autor da obra, caracterizados por uma constante enxurrada de mensagens, presentes estranhos e uma persistente sensação de paranoia.

Para que você tenha uma noção, aqui estão os impressionantes dados sobre o drama vivido na vida real por Gadd:

41.071 e-mails recebidos;

350 horas de gravações de áudio;

744 tweets publicados;

46 posts no Facebook;

106 folhas de correspondências.

“Desde o princípio, todos no bar acharam divertido o fato de eu ter uma fã”, contou Gadd em uma entrevista ao The Times. “No entanto, logo ela passou a invadir minha rotina, me seguindo, marcando presença em meus shows, esperando do lado de fora da minha casa, enviando inúmeras mensagens de voz e emails.”

No entanto, de acordo com sua opinião, o real valor da série da Netflix ultrapassa a simples abordagem de um caso de perseguição. Diferentemente das representações idealizadas comumente mostradas na mídia, a produção explora as intricadas nuances psicológicas da situação.

Conheça a história real

Em 2015, uma mulher entrou em um bar de Londres em que Gadd trabalhava. Depois de lhe oferecer uma xícara de chá, ele puxou conversa com ela. Nos três anos seguintes, ela manteve uma investida de assédio, começando a aparecer incessantemente no trabalho dele e depois em todas as apresentações de comédia que ele participava.

Mais tarde, a mulher conseguiu o e-mail do comediante, enviando mais de 41.000 mensagens durante esse período. Assim que conseguiu o número do celular dele, deixou 350 horas de mensagens de voz.

Ela lhe enviava presentes indesejados — chamando-o de “bebê rena” em referência a um brinquedo de infância que a fazia lembrar dele — e fez falsas acusações contra a família do comediante para a polícia.

Quando Gadd levou a situação à polícia, inicialmente não foi bem recebido, segundo ele contou ao jornal britânico The Guardian: “Fui repreendido por estar assediando a polícia com a minha história de assédio”.

Martha — o nome dado por Gadd à personagem stalker, interpretada por Jessica Gunning — é representada como uma presença malévola que sufoca a existência de Gadd digitalmente e na vida real. Aparecendo para atrapalhá-lo quando ele está no palco, atacando violentamente sua parceira Teri (Nava Mau) e agredindo-o sexualmente enquanto ele caminhava para casa uma noite.

Apesar disso, Martha nunca é retratada como uma caricatura de “mulher vingativa” — e sim com mais nuances, como uma pessoa que está claramente enfrentando problemas de saúde mental.

Como Gadd disse ao jornal The Independent: “Perseguição e assédio são uma forma de doença mental. Teria sido errado retratá-la como um monstro, porque ela não está bem e o sistema falhou com ela.”

Donny, o eu ficcional de Gadd na série, mostra compaixão por Martha por esse motivo, mas a princípio também parece intrigado e quase lisonjeado com o interesse dela — o que explica algumas de suas bizarras interações iniciais com ela.

O comediante leva a mulher para um café, a acompanha até a sua casa e às vezes parece satisfazer a fantasia dela de que um dia eles ficarão juntos.

Gadd reconhece que, na realidade, cometeu erros. “Fiz muitas coisas erradas e piorei a situação”, disse ele ao The Guardian. “Eu não era uma pessoa perfeita [naquela época], então não faz sentido eu dizer que era.”

Contudo, em um dos momentos mais poderosos e brutais da televisão este ano, o quarto episódio volta no tempo e revela a principal razão para o comportamento conflitante de Donny em relação à Martha: ele é uma pessoa tão vulnerável quanto ela porque no passado foi aliciado e estuprado por um homem que considerava amigo.

A curva abrupta no meio da série leva os espectadores direto à fonte da turbulência psicológica de Donny e responde à pergunta que Martha perspicazmente faz a ele desde o início: “Alguém machucou você, não foi?”.

Trazendo uma história paralela e autodepreciativa sobre Donny batalhando como comediante em um festival de Edimburgo, na Escócia, o episódio cresce de maneira pavorosa quando somos apresentados a Darrien (Tom Goodman-Hill), um escritor da indústria de televisão que oferece ajuda a Donny para chegar aos escalões mais altos do mundo da comédia.

Em vez da ajuda, Darrien incita o uso de diferentes drogas. Enquanto Donny está desmaiado em seu apartamento, Darrien o agride sexualmente pela primeira vez.

Em outra cena chocante, Darrien o estupra. Tamanho é o poder que Darrien exerce sobre Donny em seu abuso coercitivo que o protagonista sente que não pode ir embora.

“Eu adoraria dizer que fui embora”, diz Donny na narração, “que saí furioso e nunca mais voltei”

“Mas fiquei lá por dias. Na segunda-feira, peguei uma infecção no olho e deitei no chão enquanto ele limpava meus olhos com água salgada. Na terça-feira, eu alimentei o gato dele enquanto ele atendia ligações.”

A vergonha e a repulsa que Donny sente se espalham por todas as áreas de sua vida e o resto do episódio narra seu drástico caminho em direção à imprudência sexual causada pelo transtorno de estresse pós-traumático, colocando-se em perigo várias vezes em uma tentativa de neutralizar sua confusão e autodepreciação.

Mais uma vez, esta história vem da própria vida de Gadd: em seu espetáculo teatral de 2016 Monkey See, Monkey Do (“Macaco Vê, Macaco Faz”, em tradução livre), ele detalhou como foi estuprado por um homem que conheceu em uma festa. (Com informações da BBC)

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