Dengue: Grávidas devem ter atenção redobrada com a doença

Pesquisa diz que gestantes tem até quatro vezes mais chances de desenvolver quadros graves

Fernanda Cappellesso
Por Fernanda Cappellesso
Grávidas têm até quatro vezes mais chances de desenvolver quadros graves
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O cenário atual do Brasil em relação à dengue em 2024 é bastante grave, com um aumento significativo nos casos da doença, refletindo uma situação alarmante de saúde pública. Até o início deste ano, o número de casos de dengue já era quatro vezes maior do que no mesmo período do ano anterior. Esse aumento acentuado tem sido associado a temperaturas recordes, potencializadas pelo fenômeno El Niño, que têm favorecido a proliferação dos mosquitos transmissores da dengue.

A resposta das autoridades de saúde inclui o lançamento de uma campanha de vacinação, com foco especial em crianças de 10 a 14 anos, que são mais susceptíveis a hospitalizações devido à doença. No entanto, a disponibilidade da vacina é um desafio, com doses limitadas sendo um ponto crítico na luta contra a epidemia.

Além das vacinas, estão sendo exploradas tecnologias inovadoras como a liberação de mosquitos modificados portadores da bactéria Wolbachia, que mostrou reduzir a capacidade dos mosquitos de transmitir o vírus da dengue. Este método já resultou em uma diminuição local dos casos de dengue em várias cidades brasileiras. Os especialistas também ressaltam a importância de melhorias nas condições básicas de saneamento como uma medida essencial para combater a dengue, juntamente com as vacinas e outras tecnologias como ferramentas auxiliares.

Qualquer pessoa pode ser atingida pela doença, porém, existem grupos mais suscetíveis a desenvolver a forma grave, entre eles, as gestantes. O sistema imunológico das grávidas é compartilhado com seu bebê, por isso, são mais suscetíveis a infecções, que podem evoluir para quadros mais graves da doença, uma vez que a dengue afeta diretamente a cadeia plaquetária, favorecendo quadros hemorrágicos. A mãe, se infectada nos primeiros meses, corre o risco de sofrer um aborto espontâneo. Já se a infecção ocorrer no segundo e terceiro trimestres de gravidez, o risco é de um parto prematuro, com todas as possíveis complicações relacionadas, como baixo peso e problemas de desenvolvimento do bebê.

De acordo com estudo mais recente, publicado por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM) e Universidade de São Paulo (USP), a dengue hemorrágica aumenta em 2,4 vezes a chance de o bebê nascer prematuro.

Diante do problema, a ONG Prematuridade.com reforça o alerta para conscientizar as grávidas e profissionais de saúde sobre os sinais da dengue durante a gravidez. “Por meio de campanhas de conscientização, materiais educativos e parcerias com Governo e instituições profissionais, precisamos divulgar amplamente informações sobre como prevenir a dengue, como reconhecer os sintomas e onde procurar assistência adequada”, diz a diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani.

No início do mês de março, o Ministério da Saúde, em parceria com Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)c e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou a cartilha “Manual de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento da Dengue na Gestação e no Puerpério’’, com o objetivo de orientar os profissionais de saúde com as melhores práticas para o cuidado das gestantes. Dados da pasta revelam um aumento de casos de dengue em gestantes, registrando em 2023, um aumento de 16,5% no número de registros, comparado ao ano anterior. Já em 2024, se comparadas as semanas epidemiológicas de 1 a 6 com o ano passado, houve uma alta de 345,2% no número de casos da doença em gestantes.

As alterações ocorrem principalmente durante a doença aguda. Não existem vacinas contra a dengue liberadas para o uso durante a gravidez. “As gestantes devem estar atentas e procurar atendimento assim que notarem os primeiros sintomas, já que eles podem ser confundidos com os de outras condições comuns na gestação”, salienta Denise.

Entre os sintomas mais comuns da dengue, estão dor no corpo e nas articulações, febre, manchas avermelhadas, enjoo e dores abdominais.

Cuidados e Prevenção – A ONG Prematuridade.com reforça as ações de combate à proliferação dos mosquitos, evitando focos de água parada e colocando telas em janelas e portas. Além disso, é recomendado o uso de roupas de cor clara, que cubram o máximo possível da pele. O uso de mosquiteiros sobre a cama também ajuda a evitar as picadas. Em relação aos repelentes, os indicados para o uso em gestantes são aqueles à base de “Icaridina”, o “DEET” e o “IR3535”. Em regiões com temperaturas mais elevadas, esses repelentes devem ser utilizados em períodos mais curtos de tempo. É recomendado o uso em toda a área exposta da pele; no caso de roupas de tecidos finos, sugere-se utilizar o repelente sobre a roupa.

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