Fake news prejudicam tratamento contra o câncer

Oncologista esclarece a falta de uma "cura única" e a importância de fontes confiáveis de informação sobre a doença

Fernanda Cappellesso
Por Fernanda Cappellesso
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O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o Brasil terá cerca de 704 mil novos casos de câncer a cada ano, no triênio 2023-2025. Essa estatística alarmante reforça a importância do Dia Mundial de Combate ao Câncer, celebrado em 08 de abril, mas a questão permanece relevante durante todo o mês de abril. Anualmente, o mundo se une em um esforço coletivo para conscientizar sobre a doença e combater sua principal fonte de desinformação: a disseminação de fake news.

As supostas curas milagrosas ocupam um espaço significativo entre as fake news propagadas sobre o câncer. Desde listas intermináveis de alimentos considerados “curativos”, como graviola e água de coco quente, até a crença em uma única cura para todas as formas de câncer, essas informações enganosas podem ser prejudiciais e perigosas. O Dr. Uirá Resende, médico oncologista do Hospital Hemolabor, esclarece que não existe e nunca existirá uma cura única para o câncer. O termo “câncer” abrange mais de 300 doenças diferentes, cada uma com suas causas e tratamentos específicos.

“Entre as principais falácias está a crença de que há uma cura para o câncer, o que nunca vai existir porque ‘câncer’ não é uma doença, é um nome que a gente dá para mais de 300 doenças diferentes, da mesma forma como são diferentes sinusite e infarto, por exemplo. Alguns dizem até que a cura já existe e estaria sendo escondida pelos laboratórios farmacêuticos, essa é a máxima de charlatões que querem vender coisas que não funcionam”, explica o médico.

Apesar de essa informação ser amplamente conhecida, as fake news ainda conseguem atrair aqueles que são facilmente persuadidos por explicações místicas e sem respaldo científico. Isso não apenas prejudica a prática médica, mas também interfere negativamente nos tratamentos adequados e comprovadamente eficazes, comprometendo a saúde da população. Segundo o Dr. Uirá, “muitas pessoas tendem a interpretar o câncer como se ele tivesse um propósito, seja como punição, seja para controle populacional ou até mesmo como uma mensagem de alguma divindade para ensinar uma lição ao enfermo”.

No entanto, o oncologista enfatiza que todo tipo de câncer nada mais é do que a evolução de seres unicelulares continuando dentro do corpo humano. É a evolução de células que se reproduzem mais rapidamente, consumindo todos os recursos do meio em que estão, o nosso organismo, e interferindo no funcionamento adequado dos órgãos. “Entender esses conceitos básicos de evolução e de que o câncer é um termo para inúmeras doenças é primordial para evitar desinformações e cair em falácias sobre tumores malignos e curas fantasiosas”, afirma Uirá.

A falsa informação geralmente é envolta de uma espécie de encantamento. É por isso que ele acredita que cientistas e médicos deveriam ser mais acolhedores ao compartilhar o conhecimento, para que as pessoas se sintam mais identificadas com a informação verdadeira. Para o especialista, se as pessoas conseguirem entender o câncer como a continuação do processo de evolução celular, fica mais fácil interpretar as informações que chegarem até elas e não se deixar seduzir facilmente pelas mentiras. “O que impede o câncer de se manifestar numa pessoa são ‘coisas’ que impedem a evolução de uma célula. Logo, um chá não teria como impedir o câncer porque não tem esse poder”, completa.

Acreditar em qualquer informação apenas pelo fato de querer que seja verdade, ou por medo de que aquilo seja verdade, é um grande passo para se tornar presa fácil para as fake news. A dica que Uirá Resende compartilha para evitar essas armadilhas é, em primeiro lugar, sempre analisar a fonte da informação recebida. “Na internet temos boas e confiáveis fontes de conhecimento sobre o câncer e sobre saúde em geral, como os sites do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde, além dos canais do doutor Dráuzio Varela. Além disso, perante qualquer dúvida, é recomendável levá-la ao consultório para conversar com o seu médico”, finaliza.

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