Morre aos 82 anos o cantor, poeta e compositor Leonard Cohen

"Espero que não seja tão desconfortável. Para mim, é sobre isso que se trata. Estou pronto para morrer", disse o artista no mês passado

Redação Curta Mais
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Um dos maiores nomes da música canadense, o cantor, poeta e compositor Leonardo Cohen morreu nesta quinta-feira, aos 82 anos. A informação foi publicada no Facebook oficial do artista, que salientou a perda de “um dos mais prolíficos e visionários nomes da música”.

A causa da morte não foi divulgada, mas Cohen já vivia recluso há algum tempo, tendo inclusive gravado seu último álbum “You Want it Darker” (201¨) em sua residência, em Los Angeles. A família pediu privacidade durante seu luto. Um memorial deverá ser realizado em data ainda não anunciada.

Conhecido como o “trovador da voz cavernosa” e  por canções como “Suzanne” e “Hallelujah”, o artista era caracterizado por seu timbre seco, seu estilo folk e por sua voz rouca – que com o passar dos anos foi ficando cada vez mais grave. 

Nasceu em 21 de setembro de 1934, em Westmount, no Canadá. Aprendeu a tocar violão na adolescência e inspirou-se na obra do autor espanho. Federico Garcia Lorca para compor sua veia póetica. Aos 21 anos, lançou seu primeiro livro de poemas, “Let Us Compare Mythologies” (“Vamos comparar Mitologias”). Enquanto morou na Grécia, onde comprou uma casa com a herança deixada por seu pai, publicou os romances “The Favourite Game” (1963), a coletânea poética “Flowers for Hitler” (1964) e “Beautiful Losers” (1966).

O desapontamento com o fracasso nas vendas de seus livros levaram a explorar outro lado artístico de Cohen, a música Folk, que conheceu em Nova York. No seu círculo social, na cidade, estavam nomes como Andy Warhol, figura maior do movimento de pop art, a cantora alemã Nico e o intérprete Judy Collins, que incluiu o sucesso “Suzanne” em seu disco “In My Life”.

Cohen lançou 14 discos de estúdio entre 1967 e 2016. O cantor surgiu junto com a geração de grandes poetas-compositores durante as décadas de 1960 e 1970, jun, como Bob Dylan e Paul Simon, além de ser referência para artistas como Nick Cave e Eddie Vedder, do Pearl Jam, e Bono Vox, do U2.  

Os amores e os desamores, os conflitos e a religião sempre foram temas que Cohen dedicou-se ao longo da carreira com palavras cavernosas, carregadas de nicotina e fumaça. Despojado e elegante, o cantor dizia que nasceu de terno.

Sua criação mais popular foi lançadoa em “Various Positions”, em 1984, com a canção “Hallelujah”, música que, segundo estimativas, foi interpretada por cerca de 200 cantores – entre eles Jeff Buckley, Willie Nelson e Bob Dylan – e virou documentário e livro.

Cohen buscou a dedicação à espiritualidade a partir dos anos 1990, se retirando da cena artística. Farto do cotidiano, raspou a cabeça e ficou recluso em um monastério budista em Mount Baldy, Los Angeles. Retornou  à musica em 2001, com o disco “Ten New Songs”, por uma razão nada espiritual, descobriu que Karry Lyncg, sua agente e amante esporádica por 17 anos, havia lhe roubado grande parte da poupança, fugindo com cinco milhões de dólares que Cohen tinha economizado para a aposentadoria, deixando o cantor quase falido.

Com isso, o artista teve de largar a vida monástica para voltar à estrada e ganhar um pouco de dinheiro. E Kelly Lynch foi condenada a 18 meses de prisão.

Entre as diversas honrarias que recebeu, estão um Grammy honorário em 2010, por sua trajetória, e a menção no Rock and Roll Hall of Fame, em 2008.

Em outubro deste ano, lançou o disco “You Want It Darker” (Você quer mais sombrio), onde parece mais misterioso e solene do que nunca, já fazendo intensas reflexões sobre a morte. Na abertura do disco, o compositor canta “Hineni,hineni/ I’m ready, my Lord”. Hineni é hebraico e significa “Aqui estou eu”, a chamada de Abraão ao chamado de Deus para sacrificar seu filho Isaac. A canção é claramente um anúncio de prontidão. Uma espécie de declaração final de Cohen.

Partida

Em outubro deste ano, Leonard Cohen falou com clareza sobre sua morte em entrevista concedida à revista americana “The New Yorker”. Disse estar pronto para a partida. “Espero que não seja tão desconfortável. Para mim, é sobre isso que se trata. Estou pronto para morrer.” 

Na publicação, o músico também comentou sobre os vários poemas e composições inacabadas e inéditos que gostaria de concluir, mesmo não se mostrando muito esperançoso, apontando a morte como o limitador para a conclusão de seus projetos.

A causa da morte de Cohen ainda não foi divulgada. Sabia-se, porém, que sua saúde estava debilitada. A família mantém privacidade em seu luto. Um funeral deve ocorrer em Los Angeles.

Cohen deixa dois filhos, Lorca e Adam Cohen, do casamento com Suzanne Elrod.