Árvore foi o primeiro ‘palácio’ do estado de Goiás

Fernanda Cappellesso
Por Fernanda Cappellesso
Palacio goiania
Foto: Arquivo

A história por trás do que muitos consideram como o primeiro palácio do governo em Goiânia revela uma narrativa rica e surpreendente que remonta aos primórdios da construção da cidade. Enquanto o Palácio das Esmeraldas se destaca como um ícone arquitetônico e político, uma investigação mais aprofundada revela que o verdadeiro pioneirismo pode residir em uma amostra singular da natureza: uma amoreira.

Em 1934, nas terras que se tornariam o coração pulsante da nova capital de Goiás, uma “frondosa moreira” erguia-se majestosamente, testemunhando os primeiros passos do desenvolvimento da cidade. Localizada na Rua 24, essa árvore não apenas testemunhou, mas também desempenhou um papel central nos eventos históricos da época. Era sob sua sombra que Pedro Ludovico Teixeira, uma figura central na história de Goiânia, despachava documentos enquanto supervisionava a construção da nova capital do estado.

Para os residentes locais e historiadores, como a respeitada ex-reitora da UFG e ex-presidente da Academia Goiana de Letras, Maria do Rosário Cassimiro, a amoreira representava muito mais do que apenas uma árvore. Era um símbolo de resistência e continuidade, a última herança de um passado que desaparecia gradualmente sob o peso do desenvolvimento.

 

Assim, enquanto o Palácio das Esmeraldas brilha como um símbolo de poder e autoridade, é importante reconhecer que o verdadeiro primeiro palácio de Goiânia pode ter sido uma amoreira – uma árvore que testemunhou os primórdios da cidade e os sonhos daqueles que a construíram, apenas para ser relegada ao esquecimento pela marcha inexorável do progresso.

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Fotos: Reprodução / Diário de Goiás

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Foto: Google Street View 2011 / Reprodução

Tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal, a moreira se tornou assim uma árvore histórica. A ação civil pública foi motivada por informações enviadas à 7ª Promotoria de Justiça de que as construções existentes naquele endereço estavam sendo demolidas. Tratava-se de três casas geminadas, no estilo bangalô, com construção característica da época e destinadas a abrigar os funcionários públicos que vinham a Goiânia, ou mesmo moradores da nova capital.

Apesar de sua importância para a história de Goiânia, a árvore acabou sendo esquecida e hoje se encontra abandonada, seca e mal cuidada. O lote no local nada mais era do que um grande espaço utilizado como estacionamento.

Em 2010, também, uma decisão do juiz Jeronymo Pedro Villas Boas havia determinado a proteção do patrimônio, cabendo, inclusive, ao Município de Goiânia a preservação da árvore, por meio de equipe profissional de seus quadros, com o conhecimento técnico que a situação requer. No entanto, não foi isso o que aconteceu, o local não existe mais. No lugar, existe apenas a existência de um pequeno prédio com um conjunto de pontos comerciais.

Hoje o Palácio do Governo, também conhecido como Palácio das Esmeraldas, está localizado na Praça Cívica de Goiânia. É a sede oficial do governo do estado desde 1937. O Palácio das Esmeraldas foi projetado pelo arquiteto Atílio Corrêa Lima, e foi concluído em 1937.

O Palácio faz parte dos edifícios e monumentos públicos tombados pelo Iphan, em 2003. O conjunto urbano de Goiânia inclui 22 edifícios e monumentos públicos, concentrados em sua maioria no centro da cidade, e o núcleo pioneiro de Campinas, antigo município e atual bairro da capital goiana. Entre essas edificações, destacam-se o Cine Teatro Goiânia e a Torre do Relógio da Av. Goiás, de 1942. Inaugurada em 1935, seu acervo arquitetônico é considerado um dos mais significativos do Brasil.

Esta história da amoreira que leva o título de primeiro “palácio” do governo nos leva a refletir sobre como a história e a identidade de uma cidade são moldadas por eventos surpreendentes e frequentemente esquecidos. Enquanto o progresso e o crescimento urbano podem apagar fisicamente o passado, as histórias como essa nos recordam a importância de preservar e valorizar nosso patrimônio cultural.

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[1]“Primeiro Palácio de Goiânia”

[2] “Primeiro palácio de Goiânia está em ruínas”

[3] “Tombada no 4º. Registro de Imóveis Árvore representativa da fundação de Goiânia”

[4] “Juiz determina preservação de árvore moreira, patrimônio histórico de Goiânia”