Pesquisadores da UFG desenvolvem estudo para tratamento de câncer

O estudantes do Instituto de Física desenvolveram um tratamento de câncer usando o calor

Anna Júlia Steckelberg
Por Anna Júlia Steckelberg
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O câncer é uma das principais causas de mortalidade no mundo. O Ministério da Saúde prevê que até 2030, surjam cerca de 21,4 milhões de novos casos e 13,2 milhões de mortes relacionadas com a doença no Brasil. A detecção precoce e o tratamento efetivo são fundamentais para salvar vidas. Atualmente, a grande esperança vem da nanotecnologia, que já é objeto de estudo entre pesquisadores da Universidade Federal de Goiás. 

O tal grupo de pesquisadores é do Instituto de Física da Universidade Federal de Goiás (UFG). Pois bem, liderados pelo professor Andris Bakuzis, eles sintetizaram uma nanopartícula magnética feita de materiais chamados teranósticos, Quando  aplicado simultaneamente em tratamento e em diagnóstico do câncer está gerando mínima toxicidade. Isso significa uma grande expectativa para futuras aplicações. 

“Estamos aprimorando ainda mais esse sistema para fazer estudos in vivo, inclusive em modelo tumoral metastático”, ressalta o pesquisador. As pesquisas são realizadas junto ao Núcleo de Nanomedicina Térmica, que é um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

A equipe de cientistas desenvolveu também um nanocarreador multifuncional.Tal instrumento, servirá para aplicação no tratamento, em condições clínicas, por hipertermia magnética (HM), o que já é um tratamento oncológico que usa o calor para destruir as células-alvo com câncer.

Para você entender bem, calor na HM é gerado por nanopartículas quando submetidas à ação de campo magnético alternado. As nanopartículas foram recobertas com sílica e contêm em sua matriz íons de neodímio (Nd). A nanopartícula magnética multifuncional pode gerar e monitorar calor (em tempo real) durante a terapia térmica. 

Agora veja só, para se ter uma ideia, só o tamanho do nanocarreador é da ordem de 100 nm, muito menor que a espessura de um fio de cabelo (aproximadamente 50.000 nm). 1 nm é 1 bilhão de vezes menor que 1 metro (1nm = 10-9 m).

Os cientistas demonstraram que essa nova nanoestrutura tem aplicações interessantes também em terapia fototérmica. Isto é, possibilita aplicações mais profundas no corpo do paciente, assim como tem potencial para monitoramento da entrega de calor de forma não invasiva por meio de nanotermometria luminescente. 

Os pesquisadores, também, estão investigando aplicações do material diretamente no tumor e outras aplicações no sistema circulatório. “Inclusive com sofisticadas estratégias de camuflagem, recobrindo a superfície de nanopartículas com membranas de eritrócitos para carregar agentes terapêuticos para sítio-alvo”, diz Andris Bakuzis.

Andris Bakuzis explica que esse tratamento pode gerar uma ativação do sistema imune do paciente, levando a um efeito semelhante a uma vacinação, o que é chamado de “in-situ vaccination”, que pode ser realizado com as nanopartículas. O grupo do professor Bakuzis conta com estudos avançados neste sentido, mas ainda sem publicações.

“Nosso grupo está tentando entender como ativar a resposta imunológica por meio do controle dessa temperatura. Curiosamente, a ideia é que um tratamento local pode ativar o sistema imunológico, permitindo o reconhecimento de células tumorais pelo sistema imune do paciente. Nesse caso, as células T aprendem a reconhecer o tumor, e ao encontrá-lo em outras regiões ataca o mesmo. Na literatura chamamos esse fenômeno de efeito abscopal”. Segundo ele, a tese já está finalizada, mas o artigo ainda está em preparação.

Em resumo, o pesquisador explica como é o estudo: “o campo magnético interage com nanopartículas magnéticas e gera calor. Laser, com capacidade de penetração numa certa profundidade dentro do corpo do paciente, interage com as NPs e gera calor. O calor aumenta a temperatura e mata as células tumorais. Esse mesmo calor pode ser utilizado para acionar o sistema imunológico. O grupo está trabalhando para desenvolver nanopartículas que façam isso de forma eficiente, pensando no tratamento inclusive de pacientes metastáticos”. As nanoterapias térmicas, em princípio, servem para qualquer tipo de câncer.

O professor espera que a pesquisa desenvolvida pela sua equipe seja consolidada nacionalmente e internacionalmente, aumentando a inserção do grupo e do estado de Goiás na área da nanomedicina oncológica mundialmente.

Entre ações do grupo está a organização de eventos na área, como por exemplo o II Advanced School on Nanomedicine e o Workshop on Nanomedicine and Immunotherapy do Brazilian Breast Cancer Symposium, que serão realizados de forma remota em maio, eventos que contam com a participação de três renomados pesquisadores internacionais.

O professor comemora ainda a oportunidade de contribuir com a formação de profissionais qualificados, especialistas nesta promissora técnica de nanomedicina. “Esperamos que este resultado fortaleça a pesquisa e o conhecimento para o tratamento oncológico, contribuindo de forma efetiva no combate dessa doença que constitui um grave problema de saúde pública em todo o mundo”, conclui.

Créditos: Jornal UFG

Imagem: Pexels