Centro de Goiânia: de símbolo da modernidade à polo comercial e palco da arte urbana

Confira um breve panorama da história do centro da capital

Lígia Saba Fernandes
Por Lígia Saba Fernandes
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Em 1933, Pedro Ludovico Teixeira, então interventor do estado de Goiás, anunciou o decreto de número 359 que estabelecia as bases para a edificação de uma nova capital para o estado. Moderna e planejada, Goiânia foi construída com o objetivo de substituir a antiga capital, cidade de Goiás, trazendo consigo todo o alvoroço dos novos tempos que o interventor anunciava para o estado nos anos 30. Esse processo possibilitou o avanço capitalista para o interior do país e consolidou os planos políticos, econômicos e nacionalistas de Vargas e Pedro Ludovico. Nesse contexto, Goiânia surgiu como uma representação do progresso, e como um marco de ruptura com o passado.

Inaugurada oficialmente em 1942, Goiânia mesclava o urbano e o rural, expressava a modernidade e o progresso com sua arquitetura inspirada nas obras arquitetônicas européias, seu planejamento urbano e seu traçado contemporâneo, quase que como um museu Art Déco no meio do sertão. 

O Setor Central ou Centro, como é mais conhecido, foi o primeiro bairro de Goiânia, projetado pelo arquiteto Attili Corrêa Lima em 1933 e executado nos anos seguintes. O bairro antigamente era bem menor do que é hoje, e lembrava uma pequena cidade do interior, com poucas lojas, somente o Cine Santa Maria. As Avenidas Araguaia, Goiás e Tocantins são largas, como Pedro Ludovico queria, para se diferenciarem das ruelas da cidade de Goiás. Essas três principais avenidas se dirigiam ao centro do poder: a Praça Cívica, com os prédios que abrigariam o Palácio do Governo e os órgãos públicos, se encontrando com a Avenida Paranaíba. Os primeiros moradores foram abrigados na parte mais baixa, que ficava a partir da Avenida Araguaia em direção ao Córrego Botafogo.

Tombado como patrimônio histórico em novembro de 2003, o centro histórico da capital goiana, segue o modelo arquitetônico das linhas retas, das fachadas limpas e sóbrias, independente de grandes dimensões e volumes, característico do estilo Art Decó. Construções como a Praça Cívica, o Grande Hotel, Teatro Goiânia, a antiga Estação Ferroviária e a Torre do Relógio ainda revelam o estilo arquitetônico, adaptado à falta de recursos da capital durante sua construção. 

Teatro

Com o passar dos anos a visão da população sobre o centro foi se modificando assim como sua estrutura e suas representações. O aumento expressivo da quantidade de moradores na capital, o aumento do número de lojas e o intenso tráfego de veículos na região transformaram o antigo núcleo arquitetônico do avanço e da modernidade em um dos principais pontos de serviços e de comércio da cidade. A arquitetura que um dia foi a principal atração da região, hoje em dia não possui tanto destaque e as fachadas se perdem em meio ao comércio de rua, as lojas, as feiras e ao intenso fluxo de transportes. Além disso, os prédios residenciais que ainda sobrevivem no setor são em sua maioria ocupados por idosos que viveram as “décadas de ouro” do centro. 

Comércio

Além da mudança estrutural do Setor Central, eminente ao aumento da capital, as construções também ganharam, com o passar dos anos, intervenções artísticas que transformaram o bairro em uma galeria de arte urbana a céu aberto. Os enormes murais grafitados chamam a atenção dos transeuntes e atraem turistas de diversas partes do país para conferir o colorido e as intervenções artísticas que estão por toda parte. 

Dentre esses painéis destacam-se as duas intervenções artísticas que mudaram a paisagem da Rua 3, no ano passado. São dois painéis de grafite, separados por alguns poucos metros, que revelam toda a riqueza da arte urbana da capital e atraem, de imediato, a atenção do público. Os murais grafitados ocupam dois tradicionais prédios do Setor Central: Edifício Dona Chafia e Edifício Alencastro Veiga, e foram produzidos pelo grupo Bicicleta Sem Freio, formado pelos artistas visuais goianos Douglas Pereira e Renato Reno, e pelo também goiano Wes Gama, referência na arte urbana nacional.

Painel

Outro destaque da arte urbana goiana no centro da cidade é o famoso Beco da Codorna localizado na Avenida Anhanguera. Inaugurado no ano de 2014, o local tornou-se reflexo da tendência do urbanismo que nasceu na cidade. As paredes do beco são formadas por inúmeros desenhos que, em sua particularidade, transmitem mensagens reflexivas para quem os observa. A cada traço percebido, uma nova oportunidade para contemplar toda a beleza e representatividade ali presentes.

Beco