Conheça a extraordinária trajetória do homem que eternizou os primeiros momentos de Goiânia

Conheça a história de Yerevant Bilemdjian, o fotógrafo que registrou o nascimento da capital de Goiás

Fernanda Cappellesso
Por Fernanda Cappellesso
Primeiro fotografo de Goiânia registrou momentos inesquecíveis do crescimento da cidade. Foto: Acervo
Primeiro fotografo de Goiânia registrou momentos inesquecíveis do crescimento da cidade. Foto: Acervo

Vocês já pararam para pensar em quem foi responsável por capturar as imagens históricas que mostram o início de Goiânia? Aquelas fotos que muitas vezes nos pegamos admirando, comparando as diferenças entre o passado e o presente. É evidente que por trás dessas fotografias está um fotógrafo. Naquela época, a arte da fotografia era algo bastante inacessível para a maioria das pessoas, devido aos altos custos relacionados aos equipamentos e também à revelação das imagens.

Pois bem, que tal mudarmos a pergunta? Quem foi o fotógrafo responsável pelas primeiras fotos de Goiânia? Ou, quem foi o primeiro fotógrafo a documentar Goiânia em imagens? Seu nome era Yerevant Bilemdjian, nascido em Aintap, Armênia, em 15 de 1907. Quando chegou ao Brasil, passou a adotar o nome de Eduardo Bilemjian.

 Bilemdjian e sua família deixaram a Armênia quando os Turcos invadiram a Armênia e deram início a guerra que resultou no triste momento chamado Genocídio Armenio. Como refugiados, ele e sua família foram para a Síria. Anos depois, sozinho, ele foi para o Líbano, que foi onde ele aprendeu fotografia.  Nessa época ele tinha cerca de 15 e 16 anos. Foi também neste período que ele abriu seu primeiro estúdio.Em 1926, ele chegou ao Brasil pelo Porto de Santos.

 Eliézer Bilemjian Ribeiro, 45 anos, neto do Eduardo Bilemjian, contou com exclusividade ao site Curta Mais que, em um levantamento que ele fez nos documentos e arquivos de seus avós após o falecimento, ele encontrou mapas da Itália e alguns materiais da França que dão a entender que ele saiu do Líbano e foi passando por estes países.

 “A gente imagina que ele fez essa descida vindo do Líbano passando alguns períodos pela Europa. Tem algumas fotografias dele que a gente não consegue identificar onde são, mas que é anterior a essa chegada no Brasil e já não é Líbano, mas não temos informações.  Ele nunca falou muito sobre isso.  Mas aí em 1926 ele chega  em São Paulo pelo Porto de Santos e  se estabelece como fotógrafo na capital”, conta Eliezer Bilemjian.

Na capital paulista,  Eduardo Bilemjian trabalhou como  auxiliar de fotógrafo durante algum tempo.  depois ele monta seu próprio ateliê fotográfico  lá em São Paulo. O ateliê se chamava Foto Paris e ficava na tradicional avenida São João, no coração paulistano. E foi em São Paulo que Eduardo Bilemjian se casou em 1935, com uma moça de descendência armênia, que havia nascido na capital paulista,  que se chamava Liberta.

 Alguns anos depois, quando o casal já tinha duas filhas, Eduardo Bilemjian passou pela estação da luz e  viu um cartaz anunciando a construção de Goiânia.  A cidade seria a nova capital do estado e o fotógrafo viu isso como uma grande oportunidade. Meses depois, ele, sua esposa e suas duas filhas se mudavam para Goiânia.

  O trabalho desenvolvido por  Eduardo Bilemjian é considerado à frente do seu tempo, principalmente pelo uso de perspectiva que é tão recorrente em seu trabalho.Seu neto nos revelou que também trabalha com fotografia, mas não profissionalmente. Mas, já deu aulas de fotografia, já fez alguns cursos e já ministrou algumas palestras sobre a história de Goiânia, sobre a história do  avô e sobre as fotografias dele.

 Por isso ele destaca que um ponto importante do trabalho de Eduardo Bilemjian é que ele tinha uma noção estupenda de luz e sombra. Em uma época em que só existiam fotografias pretas e brancas, ele fazia composições de luz e sombra espetaculares que poucas pessoas trabalham com essa delicadeza que ele tinha pra se fazer. Eliezer destaca ainda  que os enquadramentos e perspectivas desenvolvidos pelo seu avô também chamam a atenção.

“Como ele fazia na maioria das vezes as fotografias de prédios públicos, ele sempre trabalhou muito com perspectiva, perspectiva forçada. Tanto com relação à questão dos edifícios, quanto com relação à questão de estrutura viária de ruas. Tem uma foto que é muito icônica nesse sentido. É uma foto que tem em cima do Palácio das Esmeraldas,  das três vias. Da Araguaia, do Tocantins e de Goiás. Nessa foto ele faz uma perspectiva a partir  da cobertura do Palácio das Esmeraldas.”, explicou.

O neto de Eduardo Bilemjian destacou ainda que o avô e primeiro fotógrafo da capital  sempre foi muito na arte fotográfica e nas  montagens que na época eram fotomontagens.

 

“Era  uma época em que você trabalhava com tesoura, cola e grafite pra pra se fazer os desenhos. E ele gostava muito.  A gente percebe por alguns registros que a gente tem ele era muito vaidoso.  Então ele tem muitas fotos dele. muitas selfies, né? Na época em que não existia selfie. E muitas fotomontagens nesse sentido. Então ele pegava o negativo, cortava, montava, fazia uma revelação, tirava outra foto da foto. Tem uma que é muito icônica.  A foto onde tem a gente tem a Praça Cívica ao fundo,  o Pedro Ludovico e a caneta da assinatura. A foto do  decreto da nova capital. É uma fotomontagem onde ele fez três fotografias.  Outra é o cartão de Boas Festas que ele fez pra fazer a propaganda do estúdio.  Na época  ele juntou uma série de fotografias e colocou “Feliz Natal Goiânia”.

Além disso, as  fotografias que ele fazia dele se destacam.  O fotógrafo fazia algumas fotografias dele de rosto somente e fazia recortes e colocava uma cabeça dentro de outra no negativo. Ele fazia uma série de fotomontagens nesse sentido. Outro ponto de destaque é o trabalho dele eram as fotografias coloridas que, na época, não existiam.

 “Não sei de precisar o que realmente ele fazia e o que outras pessoas faziam para  ele porque ele tinha pessoas que trabalhavam com ele no  ateliê. Uma dessas questões era a de colorir as fotografias.  Como as fotos eram preto e brancas, era preciso pintar uma a uma, depois fotografar e revelar tudo de novo. Era, de verdade, uma arte”, explica Eliézer. Com relação ao acervo ele está muito espalhado. O neto de Eduardo Bilemjian nos contou que ele tem parte do acervo com ele, mas  não é aberto para consulta porque ele começou um trabalho de fazer uma limpeza em alguma das fotos que.

 Segundo ele, algumas fotos são cópias  cópias que foram feitas posteriormente, tem as originais e tudo está misturado. Então eles começaram a fazer c uma catalogação,  com separação e uma identificação 

“Algumas fotos  ele tinha feito a identificação do que era, outras a minha avó após a morte de meu avô fez a identificação de quem são as pessoas presentes na foto, de onde foi tirada, mas outras ninguém sabe.  Aos poucos vamos tentando fazer uma pesquisa histórica, uma busca histórica para tentar localizar e identificar de  onde são essas fotografias,  em qual foi a situação em que elas  foram tiradas, coisas nesse sentido. Mas o acervo é muito espalhado. Parte desse acervo ele foi doado, parte foi pro Museu do Som e Imagem sem identificação, outras foram para o acervo do O Popular. Tem várias que são publicadas  sem sem autoria porque foram para esse acervo na época”, contou Eliézer Bilemjian. Eliézer contou ainda que a família pensa em fazer dois livros utilizando as fotos; a primeira com as fotos e a história de Eduardo Bilemjian e outra com a história da cidade contada pelas fotos dele.

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